Como nasceram nossos livros favoritos?

Anonim

O pequeno Príncipe

Estátua do Pequeno Príncipe, de Igor Uduslivii, no Parque Valea Morilor (Chisinau)

Após o fracasso de seu primeiro livro, o escritor canadense Yann Martel pegou um voo para Mumbai disposto a escrever um romance ambientado em Portugal em 1939. Porém, em um albergue cheio de macacos que distorcia sua ideia inicial de Índia, Martel descobriu que pouco tinha que fazer um romance ambientado em Portugal em um lugar tão eclipsante como o país do Taj Mahal.

Depois de enviar os restos de seu romance para um destinatário fictício na Sibéria, ele foi para o sul da Índia até desembarcar em Pondicherry, uma cidade colonial de buganvílias e cafés boêmios à beira-mar.

Foi em um desses estabelecimentos, o Indian Coffee House, que um local se aproximou dele para puxar conversa. Horas depois, ele assegurou-lhe que tinha uma história para ele, que começou em Pondicherry e terminou, curiosamente, em Toronto, cidade do autor. O nexo era um certo senhor Patel.

'A vida de Pi'

'A vida de Pi', um tributo à paz

Após retornar ao Canadá e ligar para os nove contatos com o sobrenome Patel na lista telefônica, Martel encontrou o protagonista dessa história.

Foi assim que ele nasceu A Vida de Pi, famoso livro estrelado por um jovem hindu e um tigre de Bengala, Richard Parker, suspenso no meio do Oceano Pacífico após um naufrágio.

A criação deste romance, galardoado com o prémio Booker em 2002 e adaptado para o cinema em 2012, é o exemplo perfeito de como o universo tece seus próprios caprichos quando falamos sobre o espectro criativo.

E com isso, já lhe dissemos a origem de um dos livros cujo processo criativo foi ainda mais interessante.

A vida de Pi

A vida de Pi

**'O PEQUENO PRÍNCIPE', DE ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY **

autor francês Antoine de Saint-Exupéry costumava desenhar um boneco de uma criança nas margens das letras ele escreveu para seus amigos no início dos anos 1940.

Na época, este aviador da Segunda Guerra Mundial havia se aposentado por alguns meses para Manhattan, onde começou a lidar com a ansiedade com a guerra.

Aquela figura de palito era o reflexo da criança interior a quem eu podia dizer o quão absurdo o mundo às vezes podia ser. Este foi o preâmbulo que daria vida a O Pequeno Príncipe, o livro mais traduzido do século 20 (em nada menos que 455 idiomas) e um título para recorrer sempre que a vida parece um quebra-cabeça cujas peças não se encaixam.

Antoine de Saint-Exupry e Henri Guillaumet

Antoine de Saint-Exupéry e Henri Guillaumet

**'JANE EYRE', DE CHARLOTTE BRONTË**

Na manhã de 19 de outubro de 1847, foi lançado Jornal inglês The Atlas resenha de um livro chamado Jane Eyre.

O crítico elogiou o frescor da obra e sua capacidade de mergulhar nos sentimentos da juventude, mas a questão que pairava por toda a Inglaterra aludia à identidade do "autor".

Numa época em que o mundo editorial era dominado principalmente por homens, Charlotte Brontë adotou o pseudônimo masculino de Currer Bell (suas irmãs, Emily e Anne, chamavam-se Ellis e Acton, respectivamente), para publicar um dos primeiros romances feministas da história.

Ou de acordo com muitos, uma autobiografia secreta que fundiu seu autor com aquele caráter de comportamento independente e solitário.

'Jane Eyre primeira edição

'Jane Eyre', primeira edição

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS LEWIS CARROLL

Em 4 de julho de 1862, matemático Charles Dogson foi passear de barco no rio Tâmisa na companhia das três irmãs Liddell: Lorina, Alice e Edith.

Para tornar o passeio mais agradável, Dogson contou a eles uma história sobre rainhas caprichosas e coelhos brancos, aos quais Alice implorou que ele escrevesse para ela mais tarde.

Nas caminhadas subsequentes, Dogson, junto com as três irmãs, daria vida Alice no País das Maravilhas, um livro publicado em 1865 sob o pseudônimo de Lewis Carroll.

Alice no País das Maravilhas Tim Burton

Alice no País das Maravilhas, publicado em 1865, já vendeu 100 milhões de cópias

FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY

1816 ficou conhecido como "o ano sem verão" devido à explosão de um vulcão que mergulhou o hemisfério norte no inverno eterno.

O cenário perfeito para um encontro entre a escritora Mary Shelley e seu marido, Percy Bysshe Shelley, com seu amigo Lord Byron, que desafiou os frequentadores de sua mansão a realizar uma peça de terror cada.

E embora Shelley não tenha vencido, sua história seria de fato o germe de um futuro romance. Quando dias depois ele teve um pesadelo do qual nasceu o quarto capítulo de sua história, Ficou claro para ele: Frankenstein havia nascido, o primeiro romance de terror da história.

Palácio da Posada

No Palácio Posada, Mary Shelley escreveu fragmentos de Frankenstein

'O HOBBIT', DE J.R.R. TOLKIEN

Professor universitario, J.R.R. Tolkien estava corrigindo uma enorme pilha de exames quando, no meio da pilha, encontrou uma gloriosa página em branco.

Aquela folha foi uma lufada de ar fresco no meio de sua manhã estressante, e a primeira coisa que escreveu foi "Um hobbit vivia em um buraco no chão".

Tolkien realmente não sabia o que era um hobbit, mas usaram esse conceito para contar histórias para seus filhos antes de dormir, alimentando assim o processo de criação de seu livro O Hobbit. O resto é história.

melhores sagas o hobbit

O Hobbit

'AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA', DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

As obras do Prêmio Nobel colombiano foram impressas pelas histórias de sua avó, a magia do Caribe, mas, também, a história de amor entre seus pais: Gabriel Erigio, o telegrafista da cidade de Aracataca, e Luisa Santiaga, cujo pai, o honesto coronel Nicolás Márquez, a enviou para outra cidade para afastá-la do namoro incessante de seu amante.

O amor em tempos de cólera transfere parte da essência desta história concebida como uma ode ao amor que sobrevive a todas as adversidades.

Florentino Ariza e Fermina Daza tornar-se-iam assim os protagonistas deste romance para cuja criação, Gabo trancou seus pais em uma sala separada enquanto fazia perguntas diferentes que ajudaram a desenvolver os personagens.

Gabriel García Márquez pai do realismo mágico

Gabriel García Márquez, pai do realismo mágico

'ORLANDO' DE VIRGINIA WOOLF

Orlando de Virginia Woolf foi um dos primeiros exemplos de ficção queer na história, mas especialmente uma carta de amor escrita por Woolf para sua amante, Vita West, com quem teve um caso por dez anos.

alter ego de West e protagonista da história, Orlando, é um homem capaz de se tornar mulher e vice-versa ao longo de 400 anos, evocando assim a vida alternativa e justa que seu amante teria sonhado.

Um dos exemplos pode ser encontrado em uma das grandes frustrações de sua musa: perder o direito de herdar a Knole House, a casa da família, por ser mulher.

Em Orlando, Woolf concedeu ao protagonista (West) a possibilidade de ser homem para herdar sua propriedade. Talvez dizer que era uma carta de amor seja um eufemismo.

Virginia Woolf fotografada em 1927

Virginia Woolf fotografada em 1927

'BLOOD WEDDING', DE FEDERICO GARCÍA LORCA

No árido Cabo de Almería, pouco antes de chegar à pequena cidade de San José, ainda sobrevive a Quinta do Frade.

Corroído pelos caprichos da história, Nesta quinta (quase) teve lugar a 22 de Julho de 1928 o casamento de Casimiro Pérez e Francisca Cañadas, que fugiu com seu primo e amante Francisco Cañadas, terminando em um açougue em que até a Lua acabou manchada de sangue.

O então famoso "crime de Níjar" foi a inspiração direta para Bodas de sangre de Federico García Lorca, além de Adaga dos Cravos, de Carmen Burgos.

A Fazenda do Frade

A Quinta do Fraile (Almeria)

NA ESTRADA DE JACK KEROUAC

Falar de Kerouac, o maior expoente da contracultura beat dos anos 50, é falar do “rolo”. viajante insaciável, Kerouac viajou pelos Estados Unidos e norte do México entre 1947 e 1950 fazendo milhares de anotações em um caderno.

Quando decidiu capturar todas as suas reflexões, o turbilhão criativo foi tamanho que ele prendeu todas as páginas em branco com adesivos e, sem margens nem parágrafos, dedicou-se a escrever como se não houvesse amanhã.

Mais de setenta anos depois, não podemos pensar em um livro melhor para viajar enquanto esperamos para voltar às estradas.

Jack Kerouac autor de 'Na Estrada'

Jack Kerouac

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