LaBrasaTorrijos ou como incendiar o Twitter com viagens improváveis (este é um pseudo-thread)

Anonim

'Territórios improváveis'

'Territórios Improváveis', Pedro Torrijos (ilustração: Lara Lars)

Madrid, 10 de dezembro de 2020. São 20h29 e um homem barbudo acaba de se sentar em frente ao computador. Como todas as quintas-feiras, ele está prestes a entrar ao vivo, embora hoje esteja preparando algo diferente: viajará por uma das mais belas obras musicais da história.

O homem – Pedro – dá uma última olhada em seu caderno, um diagrama rabiscado que só ele entende. Em um minuto começa o seu programa de televisão, o único que não é transmitido em TDT mas baseado em blocos de texto de 280 caracteres.

Peter abre uma nova aba, vá para Twitter e leia a mensagem na tela:

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Muitas respostas vêm à mente para essa pergunta. Vários sérios, muitos irônicos e os estranhos indizíveis. O relógio marca 20h30. É hora: #LaBrasaTorrijos começa:

“Uma das maiores obras da história da música foi composta em um campo de prisioneiros nazista...”

CAPÍTULO 1: O FILHO DO JOGADOR DE TRUMP

Quando criança, Pedro Torrijos descobriu que às segundas-feiras não podia falar com seus colegas. Enquanto se lembravam das brincadeiras da Pulga e da Lanterna em Um, Dois, Três, ele, impotente, teve que morder a língua fazendo bolinhas de papel na mesa: em casa não assistiam ao programa de Ruperta, mas a La Clave, espaço de debates de José Luis Balbín.

Embora eu preferisse ver o Sharpener Duo em vez de Severo Ochoa (ou ouça Teresa Rabal em vez de Oliver Messiaen), Pedro aprendeu, sem querer, algo que seria fundamental para ele várias décadas depois, quando relatou a vida do músico francês em um campo nazista: quão importante é o entretenimento.

"Se as pessoas não se divertem quando você lhes diz algo culto, elas nunca vão ler ou se interessar por isso. –explica Pedro por videoconferência–. Vamos ver se começamos a apreciar o quão importante é o entretenimento." Ou, disse na linguagem do Twitter pelo próprio Pedro:

Mas… Quem é Pedro Torrijos? Pedro Torrijos é arquiteto, músico e professor de trompa do ensino médio – só pra constar, já tinha visto mais trompas na vida, mas não sabia como rotular até fazer uma rápida pesquisa no Google, admito.

Mas voltando ao Pedro Torrijos. Como eu estava dizendo, Pedro é arquiteto, trompista (“Por 25 pesetas, nomes de trompistas famosos. 1, 2, 3, resp...”) e, no entanto, não se dedica a nada disso.

Pelo menos, no termo mais estrito do termo. Porque Pedro se dedica a contar histórias. E ele faz isso por necessidade.

CAPÍTULO 2: AS PALAVRAS JONKI

"Quando nasce da necessidade de dizer, não há quem detenha a voz humana". Ele escreveu esta frase Eduardo Galeano em um dos meus livros favoritos, O livro dos abraços (que, curiosamente, tem um baú na capa) e define perfeitamente a história de Pedro Torrijos.

"Nasci pequeno e comecei a contar histórias – você pode ler no site do Pedro – porque sempre gostei disso". O que acontece é que Pedro foi pelo caminho errado e estudou duas carreiras: uma em que tocava um instrumento legal, mas não se exibia tanto quanto com um sax ou uma guitarra e outra suscetível a explodir (por exemplo, com a crise de 2008).

Foi então, em plena explosão do tijolo, que se lembrou. Lembrou-se do que gostava de fazer quando criança, do que continuou a gostar na adolescência e – rufar de tambores – do que ainda gostava de adulto: contar historias.

E começou a contá-los.

A primeira coisa que ele fez foi abrir uma conta no Twitter e enviar um e-mail para a recém-nascida revista Jotdown. Houve uma queda, ela começou a escrever nele e, depois de um tempo, foi seguida por El Economista, Magnolia Magazine, Yorokobu, El País...

Pedro estava feliz (como Miguel, mas sem montanha –refrão, Geração Z–). Ele contou histórias sobre seus assuntos favoritos –arquitetura, música, cinema, cuecas…–, ele fez isso na mídia onde as pessoas o liam e, por último, mas não menos importante, ele foi pago por isso!

O que ele não contava em artigos, ele fazia no Twitter, esporadicamente usando a hashtag #LaBrasaTorrijos para reunir todas essas histórias. Até que os “threads” do Twitter apareceram e tudo mudou.

"Quando o Twitter criou os tópicos, gerou o segundo grande marco de sua história, depois do RT" Pedro explica enquanto o sol da tarde entra pela janela e desenha uma estranha auréola sobre sua cabeça, como um Febo reluzente. Esse segundo marco foi o que levou Pedro à sua grande mudança.

Pedro Torrijos

As jornadas improváveis de #LaBrasaTorrijos ou como a cultura, sem sangue, entra

CAPÍTULO 3: A MOLA EMBAR

Em setembro de 2019, @Pedro_Torrijos transmitiu seu primeiro show ao vivo. Era um tópico sobre uma cidade abortada no meio da Califórnia.

Embora fosse uma terça-feira, ele não incluiu a hashtag #LaBrasaTorrijos e esqueceu o arquétipo “eu abro tópico“, Pedro acendeu uma fogueira que ainda arde insistentemente depois de duas temporadas e mais de 60 shows.

"A ideia de fazer a sério, como uma série de televisão, com temporadas, etc., veio do meu sócio, Loreto Iglesias, a parte estratégica de La Brasa -explica Pedro-. Loreto percebeu que isso tinha muito potencial, que La Brasa poderia ser um projeto profissional. Que poderia se tornar uma profissão. Que poderíamos reportar diretamente no Twitter."

Em outras palavras, as pessoas não eram removidas da rede social por indicação de uma revista, um blog, um vídeo do YouTube... em vez disso, levou a história diretamente para onde eles estavam. Foi até a rua digital por onde circulavam. Embora isso, na realidade, Torrijos não inventou.

Alguns anos antes, um certo Manuel com o sobrenome Bartual explodiu o Twitter usando a ferramenta de thread recém-criada. Foi uma história fictícia que manteve toda a comunidade do Twitter no limite.

Depois de Bartual, os fios começaram a se espalhar, para prazer de uns e desgosto de outros. (Aqueles que defendiam que a essência do Twitter era contar algo em uma única mensagem e nesta vida, para algo dar certo, não basta fazer. Tem que fazer bem. Muito bem, aliás. E é aqui que voltamos à história de Pedro e da sua brasa.

CAPÍTULO 4: AS VIAGENS IMPROVÁVEIS

Pedro Torrijos é ótimo em contar histórias. E não o digo (sozinho), mas é ele mesmo quem o diz. Isso pode soar um pouco “assustado” mas, mais uma vez, é algo que Pedro diz sobre si mesmo. Em um de seus tópicos, na verdade:

E é que, ignorando o defeito arquitetônico, a César o que é de César: Pedro Torrijos é um excelente contador de histórias. Especialmente por causa de como ele faz isso: "Eu sempre escrevo ao vivo, nunca tenho um capítulo escrito de antemão. Como um cantor de rock, eu saio e escrevo. É por isso que há tantos erros de digitação, mas faz parte do produto: é algo contado ao vivo."

Ao vivo, mas não improvisado porque, como ele mesmo diz, documentar um tema pode levar até três semanas, isso sem contar o tempo dedicado às suas duas carreiras (algo que tiveram que servir) e na infinidade de livros e filmes que consumiu.

Porque, se há algo que se destaca na narrativa de #LaBrasaTorrijos, é justamente isso: a variedade de narrativas de que se baseia. Especialmente o cinema.

"Audiovisual é a linguagem do nosso tempo", diz Torrijos. Isso é algo que se vê em cada fio, por exemplo com as prolepses e analepses (flashforward e flashback) que quebram a estrutura linear de suas histórias. Em poucas palavras: é como assistir a um documentário no Twitter.

Para conseguir esse efeito, Pedro teve que adaptar seu estilo à linguagem da rede social, que "Permite contar histórias muito bonitas, pequenos trechos que podem ser vinculados a outros conteúdos. Muito diferente de um artigo."

As histórias de Pedro, além de serem nutridas pelo cinéfilo e pelo audiovisual, têm outra característica fundamental: são autênticas viagens pelo Twitter. Mas não viaje para o uso, da estrada, passaporte, guarda-chuva e selfie.

As viagens que Pedro propõe são estranhas, desconcertantes, acrobáticas: improváveis. Porque o Pedro, embora não o saiba, é uma espécie de paradoxógrafo.

Paradoxografia é um gênero da literatura helenística grega que relata fenômenos anormais ou inexplicáveis do mundo natural ou humano. Os paradoxógrafos eram, afinal, pessoas que falavam de lugares capazes de causar espanto. Lugares improváveis.

É exatamente isso que Pedro faz quando fala sobre cúpulas geodésicas sobre Manhattan, arranha-céus transformados em barracos em Joanesburgo, cidades que pegam sol com espelhos gigantes na Noruega ou cidades inabitáveis em Hong Kong.

Mas não só isso. Também faz isso extraindo o incrível de lugares aparentemente comuns. É aí que o arquiteto, o músico e o contador de histórias se fundem: quando ele escolhe um local cotidiano e consegue Gere uma sensação de admiração com sua história.

Porque, na realidade, a arquitetura é apenas isso, pura maravilha. "Quase qualquer obra de arquitetura é território improvável –explica Pedro com voz de arquiteto–. Resolva um problema que existe há muito tempo. Um edifício é um conflito resolvido."

Essa combinação de arquitetura, música, cinema e maravilha é o que faz do #LaBrasaTorrijos um dos eventos mais populares do #TwitterCultural, selo promovido por outro dos grandes promotores culturais do Twitter, @elbarroquista

E é aqui que voltamos ao início desta história: quão importante é o entretenimento. A razão pela qual cada programa #LaBrasaTorrijos roda “como fogo e tem métricas de até 4 milhões de impressões no primeiro tweet é que as pessoas se divertem” enfatiza Pedro.

Esse entretenimento – além da qualidade – é o que está por trás do sucesso dos programas informativos de televisão (que não são) como La Brasa, e outros (que são) como El Condensador de Fluzo, apresentado por @JuanGómezJurado no La 2 da TVE (e no qual, aliás, @elbarroquista também colabora, entre outros).

'Territórios Improváveis' Pedro Torrijos

'Territórios Improváveis', Pedro Torrijos (ilustração: Lara Lars)

Mas #LaBrasaTorrijos não é o único projeto de Pedro. Nos bastidores estão duas obras que compartilham um nome – Territórios Improváveis – mas nenhuma plataforma: um livro, que sairá em maio; e um podcast, que será lançado após o verão na plataforma Podium Podcast.

Sobre o livro, Torrijos explica que "será por puro entretenimento e, de certa forma, um livro de viagens". Nascido das brasas do Twitter, mas com uma estrutura própria, Territórios Improváveis terá a flexibilidade de obras como Amarelinha, legível em qualquer direção e manejável como uma peça de Lego.

E assim, entre livros, podcasts e paradoxografias do Twitter, encerro este pseudo-thread como comecei: com a vida de um compositor francês que criou uma das mais belas obras da história cercado pelos nazistas. Um território verdadeiramente improvável.

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