O (outro) Madrid de José Mota

Anonim

José Mota

Abracadabra: Madri!

Nem o realizador Pablo Berger nem José Mota são de Madrid, mas ambos escolheram a cidade como sua anos atrás e ainda estão aqui. Dentro Abra Cadabra, seu terceiro filme, depois de Torremolinos 73 e Blancanieves, Berger finalmente se atreve a definir uma história naquela Madri de que tanto gosta. Porque Abracadabra é muito Madrid, embora seja apenas um dos muitos Madrids que existem dentro da cidade.

“Madrid me fascina como cidade, porque as torres de Chamartín convivem com uma taberna onde vendem sanduíches de torreznos e lulas, o cupcake e os bastões coexistem”, diz o diretor nascido em Bilbao e que passou uma década em Nova York antes de se estabelecer na capital. “Madri é uma cidade onde também existem barreiras, onde o M-30 marca uma fronteira. Meus protagonistas moram fora daquela M-30, criamos um bairro um pouco Moratalaz , um pouco Carabanchel , um pouco conversa e um pouco Mostoles …”.

Abra Cadabra

Mota, Verdú e Berger.

Seus protagonistas são Maribel Verdu, uma mãe choni; Antonio De La Torre, marido e pai, mas sobre um madridista, e José Mota, o primo de segurança de um supermercado e apaixonado por hipnotismo. Os três circulam por aquela cidade do outro lado da M-30. Eles filmaram em um anel viário "no alto do Barrio de la Concepción, em pontes sobre a M-30, alguns exteriores em Legazpi, o exterior de um salão de casamento chamado La Noria em Torrejón de la Calzada".

Mas também filmaram no centro de Madrid, onde fica a cidade moderna mas também a habitual: a do Quarto Dourado n (onde o _Abracadabra soa) _ e o cafeteria nebrasca com seus lanches de senhoras e senhores de panquecas com creme.

Abra Cadabra

Panquecas em Nebraska.

Abracadabra é uma homenagem à cidade, a uma Madrid que ainda reluta em desaparecer. “A Madrid que retrata Abra Cadabra, é uma das realidades de Madrid”, conta-nos José Mota.

“Pablo mostra isso com um maravilhoso senso de humor e uma estética particular, ele vem resumir o final dos anos 70, todos os anos 80 e início dos anos 90 em um esplêndido raio-x e desenha com pincelada uma parte do realidade social deste país através dessa estética. Mas Madrid é muitos Madrids, é isso, é o Madrid moderno, o Madrid da terceira idade, Madri é eterno”.

MINHA CHEGADA EM MADRI

“Vim em 1987, estou em Madrid há mais tempo do que em Montiel (Ciudad Real), onde nasci. Lembro-me que a primeira vez que vim a Madrid, a sensação que a cidade produziu em mim era muito, muito parecida com o que eu imaginava na minha querida Mancha antes de vir, e isso me cativou. Eu tinha 14 ou 15 anos na época. Lembro-me que tocava na rua a música de Paloma San Basilio: Juntos, café a dois, meio fumando um cigarro._ E mecano estava em plena efervescência… Só que Madrid era a pêra”.

O QUE MAIS GOSTO EM MADRI

“Madri tem uma alma super quente, É a cidade de todos, abraça quem vem de fora. Eu senti isso no primeiro dia e ainda é assim, acho que é a principal grandeza disso. É caótico, às vezes confuso, mas maravilhoso. Essa convivência entre o urbano e o rural tem, dá a Madrid aquele calor especial e é por isso que me parece uma cidade única”.

Abra Cadabra

Corra, cavalinho.

MEU PRIMEIRO MADRI

“Assim que cheguei, morei na Avenida Vinateros, na Calle del Corregidor Señor de la Elipa, em um apartamento minúsculo de 45 m2. Foi uma coisa anão que eu compartilhei um tempo. De lá fui para a rua Ercilla, pelos Embajadores. E daí para a rua Agustín Durán, até o bairro Guindalera, por Francisco Silvela. E de lá para a Cidade dos Jornalistas, onde vivi toda a minha vida.”

MINHA (GRANDE) NOITE EM MADRID

“Para falar sobre a vida noturna em Madrid tenho que voltar ao meu início, quando cheguei. Lembro-me do tempo de Estela, uma discoteca a que Mecano alude na sua canção Bailando salsa, foi o último suspiro da Movida madrileña, anos 89 e 90. Lá iam todos: Almodóvar, Alaska… Era um lugar maravilhoso. Também nos deslocamos por Moncloa, num lugar chamado O Sal, o Império no Paseo de Recoletos… O número de anos que se passaram. Nós também íamos Capital ou para Pacha. Madrid era uma festa todas as noites.

Lembro-me de me apresentar com o meu parceiro numa discoteca em Ventas, e em discotecas do centro de Madrid, como a Dourado, Windsor, Xenon, Caribe. Então havia uma cultura de boates como ninho ou refúgio para a comédia, para os comediantes. Havia mais comédia nas boates do que no teatro. E eu lembro que nós tocamos à uma da manhã, foi muito surreal, mas quando as redes de televisão chegaram o fluxo da noite começou a cair.

Abra Cadabra

Abracadabra na Sala Dourada.

BAR DO MEU BAIRRO

Seu personagem em Abracadabra toma café da manhã em uma xícara de café com bastões todas as manhãs no Bar Biarritz em Moratalaz. “Não fui cafeicultor, não frequentei muitos bares nos bairros onde morei, exceto o haima, um bar Alfredo Marquerie, então eu fui muito lá. E acabei de lembrar que em Agustín Durán íamos a um bar-restaurante chamado O bom gosto, onde comemos o menu do dia, tivemos os nossos amigos, que talvez tenha sido aquele em que mais me envolvi com amigos e uma rocha do bairro".

MEUS CANTOS DE MADRID

“Na ausência de praia, Madrid tem recantos maravilhosos. O retiro me encanta. E eu costumava ir ao Cabana".

José Mota

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