'Fernando Higueras. Desde a origem': uma exposição para lembrar o arquiteto e descobrir o gênio

Anonim

Fernando Higueras

Fernando Higueras, uma alma livre

“Terminei minha graduação no momento em que Mies Van der Rohe influenciava todos os recém-formados da Escola com sua arquitetura racionalista e cúbica, dizendo que menos é mais. Sempre me pareceu que menos é menos e mais é mais”.

Esta última frase de Fernando Higueras bem poderia resumir toda a sua carreira: a de um arquiteto retumbante, que sempre fazia o que queria e quando queria.

Agora, o Museu ICO nos dá a oportunidade de embarcar em uma jornada maravilhosa através de seu legado –desde os seus primeiros desenhos e trabalhos da licenciatura até aos seus projetos mais recentes– na exposição Fernando Higueras. Da origem , com curadoria de Lola Botia, que foi sócio do arquiteto até sua morte em 2008.

Fernando Higueras

A 'Coroa de Espinhos' (1965-1985)

CONSTRUTOR ANTES DO ARQUITETO

Uma de suas maiores lições –especialmente para quem quer se dedicar à Arquitetura–, sem dúvida, foi esta:

“A palavra arquiteto vem do grego antigo architéctōn, composto por archós (chefe) e téctōn (construtor). E assim como o arquiduque é mais que duque, arquiteto é mais que um construtor, mas um construtor, e hoje os arquitetos não têm noção de construção”.

Por onde começar a falar quando se trata de Higueras? Por causa de suas residências artísticas? Por causa da caverna em que ele foi enterrado em vida? Por causa de seus 'invariantes'? Por causa de sua capacidade de tomar o oposto? Por causa de seu talento como guitarrista? Por sua coroa de espinhos? Ou por causa de suas saliências características, que em alguns casos chegavam a um terço de seu comprimento?

arranhador do inferno

A morte apareceu nas cartas de tarô e Higueras decidiu evitá-la em sua caverna

Mas às vezes, quando se trata de genialidade, faz sentido começar falando sobre a pessoa. E na falta dele, procure as palavras de alguém que o conhecia perfeitamente:

“Fernando era uma pessoa muito próxima, um grande amigo de seus amigos. Você não precisava vê-lo todos os dias para saber que ele podia contar. Era uma pessoa verdadeiramente cativante e de generosidade sem limites”, diz Lola Botia.

ENTRE AMIGOS

“Não foi politicamente correto. Quando ele criticava algo ou alguém, ele era tremendo, muito direto, lapidário, e isso, é claro, cobrava seu preço, mas ele não podia evitar”, continua Lola.

No entanto, seus amigos -entre os quais estão nomes como Antonio López, César Manrique ou Antonio Miró – eles nunca falharam com ele.

Fernando Higueras

Fernando Higueras com seu amigo Antonio López

Muitos sabem que Fernando Higueras Foi o descobridor do pintor Antonio López. O que eles não sabem é como isso aconteceu: um dia ele entrou em um açougue e uma pintura chamou sua atenção, Pertencia a um certo Antonio López Nesse mesmo dia o telefone tocou no ateliê do pintor. Era Higueras. Ele queria visitá-lo e transferir suas pinturas entre seus amigos ricos em Madri.

Em uma de suas palestras, ao descrever as pinturas em seu arranha-céu – ‘sua caverna’, como ele chamava –, Higueras disse “esse é um Sorolla que eu tinha que vender, outro Sorolla que eu tinha que vender e é um Antonio López García, estou morrendo, mas não estou vendendo”.

PRIMEIRO E ACIMA DE TUDO: GRATUITO

Como arquiteto, poderíamos reduzir tudo a um único adjetivo: grátis. Alguém com uma fala própria, a de um arquiteto que ama acima de tudo uma coisa: a arquitetura.

"Fernando pertencia a uma geração de arquitectos que desenvolveram a sua profissão num país onde havia muito para fazer e mais para inovar, e numa altura em que a Espanha se abria ao mundo exterior e aumentava enormemente os seus níveis de bem-estar", explica Lola.

Fernando Higueras

Capela fúnebre no cemitério militar. Projeto de último ano (1959)

“Ele não se ateve a formas ou modos. Ele era livre, como em sua própria vida . Foi, sobretudo, um arquitecto muito corajoso, principalmente pelo facto de, no tempo em que viveu, desenvolver a sua arquitectura e as suas propostas a partir de uma enorme liberdade”, continua.

A exposição Fernando Higueras. Desde o início (até 19 de maio) nos apresenta uma viagem cronológica pela obra do artista –porque além de arquiteto, foi pintor, músico e fotógrafo– através de maquetes, plantas, imagens, desenhos e áudios.

“O que havia de especial em Fernando era sua sensibilidade e paixão pela arte e pela beleza. Esta paixão leva-o a praticar a arquitectura do ponto de vista ético, com a convicção de que o arquitecto Eu tinha a obrigação moral de melhorar a vida das pessoas." continua dizendo Lola.

Estética subordinada à funcionalidade sempre foi o fio condutor de sua arquitetura. “Por ter um objetivo útil no desenvolvimento de seu trabalho, Eu não estava ciente das modas ou da necessidade de pertencer a uma determinada corrente, mas que seu trabalho foi enquadrado apenas dentro de sua própria tendência", diz Lola.

"Isso tem como consequência sua arquitetura permanece plenamente válida hoje", terminar

Fernando Higueras

Fernando Higueras, Félix Candela e César Manrique

UMA ARQUITETURA ARREDONDADA

Assim, nesta amostra podemos ver a partir de suas residências artísticas projetadas para o Monte de El Pardo a Igreja de Santa Maria de Cana em Pozuelo de Alarcón, passando pelo Centro de Restauros Artísticos da Cidade Universitária de Madrid –mais conhecido como 'Coroa de Espinhos'–, os vestígios que deixou em Lanzarote e, claro, seu famoso arranha-céu

"Se eu tivesse que destacar um único trabalho, seria o projeto do Dez residências para artistas em Monte de El Pardo, especialmente importante por ser aquele que lhe dá projeção internacional, sendo ainda muito jovem, e porque nele já se encontram o que seriam os principais invariantes de toda a sua arquitetura", Lula nos conta.

"E, entre a sua obra construída, e embora seja realmente difícil selecionar apenas alguns edifícios entre os mais de 300 projetos em que trabalhou ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira, diria a Casa Lucio Muñoz, o Colegio Estudio e o Hotel Las Salinas, entre outros. Porque na verdade eu gosto deles do mesmo jeito…”, reflete.

Fernando Higueras

Dez residências para artistas, Monte del Pardo, Madrid (1960)

O ARRANHADOR DO INFERNO

Por que um arquiteto cujo nome aparece na placa da Coroa de Espinhos, o Colegio Estudio de Aravaca ou a Unidad Vecinal de Absorción em Hortaleza Você não gostaria de expor sua própria casa ao público?

Fernando Higueras escondido em Rascainfiernos a parte mais profunda de si mesmo. Uma caverna interior que não precisava (ou queria) mostrar o exterior.

Em uma ocasião, seu amigo Paco Nieva leu as cartas para ele e a morte apareceu quatro vezes seguidas. “Ele me viu enterrado no subsolo com um cipreste em cima de mim em apenas três anos”, disse Higueras.

Assim que decidiu enterrar-se vivo nesta casa em particular para onde também mudou seu ateliê e que hoje é a sede da Fundação Fernando Higueras.

Fernando Higueras

A casa subterrânea de Fernando Higueras

CENTRO DE RESTAURAÇÃO NA CIUDAD UNIVERSITARIA

Um projeto de Fernando Higueras em colaboração com Rafael Moneo e Luis Roig d'Alós, declarado em 2001 Poço de Interesse Cultural com a categoria Monumento.

A obra foi interrompida em 1969 e Foi concluído em 1985, dando origem a um edifício circular dividido em 30 segmentos. –simetria, lembra?–.

uma pintura de Antonio López o que reflete precisamente essa paralisação, pois mostra a famosa Coroa de Espinhos ainda em construção. Atualmente é a sede do Instituto do Patrimônio Histórico Espanhol.

SANTA MARÍA DE CANÁ, A IGREJA DE UM MILHÃO DE TIJOLOS

O projeto da Igreja de Santa Maria de Caná foi realizado entre 1995 e 1999, resultando em um templo onde reinam a simetria e o jogo de luz e sombra pela posição dos tijolos infinitos que a formam.

Fernando Higueras

Interior da igreja de Santa Maria de Caná (1995-1999)

O IDIL COM LANZAROTE

Em 1963 Higueras foi contratado para desenhar um Plano de Gestão e Urbanização para Playa Blanca, no sul de Lanzarote. Viaje para a ilha com César Manrique e ali encontra uma riqueza natural sem precedentes. Também fará propostas para a cidade gaivota no Risco de Famara e na Montaña Bermeja.

ATÉ A ÚLTIMA RESPIRAÇÃO

Em 2002 virá o Proposta para Marco Zero em Nova York , composto por duas torres transparentes de 137 metros de altura. Ele também apresentou o projeto de Arranha-céu horizontal para Xangai e em 2007 constituirá o Fundação Fernando Higueras.

arranhador do inferno

Nos Rascainfiernos não há necessidade de aquecimento ou ar condicionado

MAIS É MAIS

Admirado por muitos e pouco ou incompreendido por alguns –certamente este último não importaria para ele–, Higueras deixou um legado extraordinário na arquitetura espanhola que sempre nos fará lembrar o que ele mesmo chamava em suas palestras como “sua peculiar ponta de besta”.

Fernando Higueras

Não há madrileno que não conheça a Coroa de Espinhos

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