Rodríguez e Rabaneda: 'art de vivre' ibérica

Anonim

Ambos pertencem ao mundo da moda. O sevilhano Daniel Rabaneda e a francesa Rosemary Rodriguez (de origem espanhola) juntos têm uma longa experiência no setor de design. Ele, além de criar sua própria empresa com apenas 24 anos, foi diretor criativo de Ángel Schlesser; passou por Christian Dior, Paco Rabanne e Thierry Mugler, entre outros. Juntos criaram Rodriguez e Rabaneda, um projeto que nasceu durante o confinamento e já foi apresentado em Madri, Paris e Dinamarca.

Não é, neste caso, moda. Rodríguez y Rabaneda é uma firma artesanal fruto da amizade e afinidade que surgiu entre os dois designers, que busca resgatar tradições e apresentá-las com uma visão atual. “Queríamos trabalhar com pessoas que tivessem a mesma paixão que nós por fazer coisas com as mãos, com nossos mesmos valores, criar objetos que transmitam emoções e que possam acompanhá-lo no dia a dia”, Rosemary conta a Condé Nast Traveler.

Vela de viagem Egeria de Rodriguez e Rabaneda

A embalagem também é puro artesanato.

Ela prefere se referir ao seu projeto como 'rótulo'. "Não gosto da palavra 'marca'. Label é mais usado para música (poderia ser traduzido como 'rótulo') e, para mim, tem mais a ver com emoções e momentos.” E é que, em sua ideia, a parte humana é primordial. Seus pedaços de cerâmica, joalharia, produtos gourmet… que são vendidos online e de forma pop-up, são escolhidos com extremo cuidado. "Queríamos ser seletivos, não apostar em nenhum tipo de artesanato", explica.

Daniel lembra como tudo começou durante os meses mais difíceis da pandemia. “Conversamos todos os dias e compartilhamos histórias sobre nossas avós. Ela é de família espanhola e me disse ‘se você vier a Paris, traga isso, que me lembra meus verões em Salamanca”, diz a estilista. “Percebemos que eram coisas muito nossas que talvez outros não soubessem e queríamos resgatar, reconstruir essa arte de viver com nossa visão pessoal”.

Rodrigues e Rabaneda

Retrato dos dois designers.

“Para nós, a Espanha é um contexto especial, pela diversidade que existe. Não queríamos artesanato do mundo, queríamos aquelas emoções que são muito nossas, que fazem parte das nossas vidas. Este é um país muito rico”, enfatiza Rodriguez. "Gosto muito de algo que não encontro em outros países... aquela coisa transgeracional, de criança com avó, que convive, se comunica, fala, troca ideias. Isso também é diversidade. Cada região tem quase uma cultura diferente. Queríamos colocar tudo isso em aberto.”

Com esta ideia da Madalena de Proust, Rosemary quis recuperar “aqueles cheiros de criança, daqueles momentos com a família e amigos. Na Espanha há algo que é ótimo, que eu chamo de terapia da comunicação. As coisas são ditas, certas ou erradas, mas são ditas. Quando você os compartilha, eles já têm menos importância. Isso é muito bonito. Você pode chegar com todos os seus momentos bons e ruins, mas ter a opinião de outra pessoa faz você diminuir o drama. Isso é uma coisa cultural muito interessante."

Vela de viagem Egeria de Rodriguez e Rabaneda

Vela de viagem Egeria.

"Durante muito tempo falamos sobre a importância dos grupos", continua Daniel. “Queríamos destacar o trabalho da equipe e não o individual. Que era um projeto de muitos. Que todos contribuam com um know-how e todos aprendamos com os outros. Esta é uma viagem (uma viagem) em que todos estamos descobrindo coisas. A Espanha é desconhecida até para nós. Vivo aqui desde que nasci e encontrei coisas que não conhecia, o projeto nos enriquece”.

O fato de ambas virem do mundo da moda traz uma perspectiva diferente, diz Rosemary. “Uma visão não ingênua, um pouco mais fresca. E esse conceito nômade que é o que somos, o que a Espanha é. Viaje, descubra.

UM PROCESSO DE CO-CRIAÇÃO

Como você seleciona e desenvolve as peças? “Descobrimos o artesão, encontramos seus pontos fortes e o tiramos de sua zona de conforto Daniel comenta. Misturamos a nossa visão com o seu know-how. O resultado tem a nossa visão estética e artística, há uma conversa criativa”.

Por exemplo, sua vela icônica é uma tradição de cerca de 150 anos: velas de cera encaracolada, que são usadas para cerimónias religiosas, especialmente na Páscoa. "Queríamos recuperar essa tradição escondida e trazê-la para a arte de viver, para o lar... descontextualizá-la", explica Rabaneda.

A parte de seleção é fundamental e, posteriormente, é realizada uma espécie de “composição a seis mãos” que também procura ser algo disruptiva. “Queremos estar onde não somos esperados. Saia da trilha batida”, diz Rosemary. “Não queríamos nos limitar a fazer coisas tradicionais simplesmente mudando a cor, mas procurar uma abordagem contemporânea.

Cesta de Rodríguez e Rabaneda

Cesta de Rodríguez e Rabaneda.

Daniel concorda: “Hoje existem muitas marcas de artesanato focadas na tradição. Nosso discurso busca ser mais transgeracional, mesmo que seja baseado em uma técnica tradicional”. Essa mistura, essa reviravolta é o que os torna diferentes. “E queremos estar em lugares atípicos, inovar na distribuição, queremos nos divertir e experimentar novas fórmulas. Fizemos a viagem em todos os aspectos. Até na hora de projetar, que os produtos façam você viajar e eles viajam”.

Assim, suas saídas físicas são inesperadas: executar Aparecer nas lojas de todo o mundo, em busca de um espírito de comunidade. "Neles queremos que as pessoas nos representem, que o transmitam... sempre quisemos estar nesse espírito de partilha, de sermos acolhidos." Seu sonho? Estar em hotéis conceito slow, onde os viajantes podem descobrir as propostas em um ambiente boutique e conectado com a natureza. Eles esperam encontrar aceitação nos países escandinavos ou no Japão, onde apreciam muito este tipo de produtos. “Gostaríamos de estar em países apaixonados pela Espanha, enfim”, resume Rosemary.

Rodrigues e Rabaneda

Daniel e Rosemary.

“Depois da pandemia, achávamos que ter uma loja física não fazia mais tanto sentido. Ia contra os tempos – sustenta Daniel –. Somos uma comece, um novo conceito. Queremos ir onde quisermos e quando quisermos. Uma coisa muito jovem, procuramos alguém para nos receber no 'sofá', pessoas que conhecemos em uma viagem. Por duas semanas, por exemplo”, brinca. Nessa linha, eles até pensaram em construir uma loja sobre rodas. “Até fazer um tour! Gostamos dessa ideia de movimento.” diz Rosemary.

UMA VIAGEM DOS SENTIDOS

Em relação aos produtos, outro ponto importante de sua ideia é que o preço seja justo e haja honestidade no processo de produção. “Às vezes o artesanato não é valorizado –admite Daniel–, você encontra coisas feitas em outros países por quatro pesos, mas às vezes também é supervalorizado e leva a preços exorbitantes. Queríamos um preço justo e acessível, onde todos estivessem confortáveis. Os artesãos, nós… e o cliente. Também não queremos superproduzir. A embalagem é reaproveitada e tudo é muito manual, tentamos levar o que temos à nossa volta”. Tudo é feito na Espanha e o embalagem às vezes tem aquele toque wabi sabi, imperfeita, como parte do projeto humanidade.

Pingentes Rodríguez e Rabaneda

Pingentes de amuleto Irma.

Os detalhes também são essenciais. O design da garrafa de óleo, por exemplo, é escuro para proteger as propriedades do produto; a etiqueta traz o logotipo de Rodríguez e Rabaneda e também a do artesão, que se torna visível. O logotipo tem um círculo que representa essa união.

O projeto também tem uma 'perna' artística. “Queremos descobrir talentos e pedir-lhes que se expressem num contexto: uma exposição, um workshop, um encontro… Gostamos de nos abrir para as pessoas, que os artesãos conversem entre si. Encontrar conexões entre eles essa liberdade de viajar e de encontrar, e de deixar que cada um perceba coisas diferentes”, Rosemary explica.

Uma garrafa de óleo de 100 ml para levar na viagem, um pingente e amuleto, um porta incenso... cada produto conta uma história e é acompanhado por um ritual. "Os produtos também são desenhados desta forma -acrescenta Daniel-, para que você possa viver uma pequena viagem com eles". Uma viagem que pode nos levar a Almagro, por exemplo, onde alguém herdou um pequeno olival e passou a fazer a colheita como hobby, para dar azeite aos amigos. “Quando descobrimos essa iguaria, não queríamos que passasse despercebida”, diz Daniel.

Óleo de Rodríguez e Rabaneda

Rodriguez e óleo de Rabaneda.

UMA HISTÓRIA DE ARTESANATO E AMIZADE: A TRIBO

Daniel e Rosemary se conhecem desde 2018. “Eu tinha uma tarefa e achava que ninguém poderia me ajudar melhor do que ela, mas não nos conhecíamos. Eu escrevi para ele no Instagram”, diz ele com uma risada. Acrescenta Rosemary: “Como faço muitas coisas ao mesmo tempo – senão fico entediada – não assisti no começo, mas a leitura despertou minha curiosidade e entramos em contato. Ele me contou sobre esse projeto e nos conectamos”.

Rosemary trabalhou no setor de moda, mas também em perfumaria e design de interiores, principalmente com identidade visual de marcas. “ Gosto muito de contar histórias, descobrir porquê, como… acho que tem que fazer as pessoas sonharem”, nos disse. Há uma grande confiança entre os dois. “Temos um verdadeiro respeito um pelo outro e não há hierarquia. Quem faz algo melhor, faz. E se um não faz, o outro faz. Tudo flui muito naturalmente. Viemos de um mundo muito competitivo, mas não há nada disso entre nós”. ela se relaciona.

Vela de Rodríguez e Rabaneda

Vela Lola e Manolete.

Daniel lidera as redes com senso de humor, já que a irreverência também é importante no conceito. “Um joalheiro artesanal, por exemplo, você o imagina precioso, esmaltado… e em nossa proposta você encontra grés da Catalunha, algo picassiano, um dragão de Sant Jordi… queremos nos divertir”.

"Há coisas em que fizemos muito mal, mas é assim que você aprende", conclui Rosemary com humor. Queríamos construir algo que conectasse nossa experiência, mas fosse algo diferente. Gostamos da ideia de correr riscos.”

Suas novas peças serão lançadas em setembro, quando passarão pela Wow, a nova loja conceito de moda de Madri. Eles estarão lá por alguns meses e depois quem sabe! Daniel e Rosemary ainda têm muitas histórias que querem desenvolver, Estaremos muito atentos para apreciá-los.

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