Viagem a uma pintura: 'Nighthawks', de Edward Hopper

Anonim

Os 'Nighthawks' de Edward Hopper

Falcões Noturnos, de Edward Hopper, 1942

A rua está vazia. É de noite. A luz do restaurante Phillie's se espalha pela calçada. Atrás do vidro, um casal está sentado no bar. Ela come um sanduíche. Ele fuma. Eles bebem café. Eles não estão com pressa. Um homem de chapéu apoia os cotovelos no balcão. O garçom vira a cabeça para eles, mas a conversa não começou ou acabou. O barulho de xícaras, copos, pratos é o único som na sala. Talvez o leve zumbido das lâmpadas fluorescentes.

'Nighthawks', que poderia ser traduzido como 'Night owls', é a obra mais famosa de Edward Hopper. Ele pintou em 1942. Foi baseado em um restaurante em Greenwich Village, Nova York, onde ele morava. “Simplifiquei a composição e aumentei o restaurante. Inconscientemente, ele provavelmente estava pintando a solidão de uma grande cidade" , ele mencionou em referência à cena.

Hopper sempre negou o conteúdo psicológico de suas pinturas. Ele afirmou que a arte é a expressão da vida interior do artista, o resultado de sua visão do mundo. Ele foi fiel a esse princípio. Seu olhar reflete uma América assombrosa e solitária. Suas obras falam, como um quadro aleatório de um filme noir, do que ainda não aconteceu. **A sugestão está no que não é mostrado. **

Falcões Noturnos

'Nighthawks' é exibido no Art Institute of Chicago.

De uma família de classe média Edward estudou na Parsons School com mestres do impressionismo americano, como William Merrit-Chase e Robert Henri. Seus primeiros trabalhos foram ligados à publicidade. Ilustração e design de pôsteres marcaram o foco nítido de suas pinturas a óleo.

Na década de 1920 ele viajou para a Europa. Não se interessou pelo cubismo nem entrou em contato com círculos de vanguarda. Ele visitou os museus. A Ronda Noturna de Rembrandt o impressionou. "A coisa mais poderosa que eu já vi", disse ele.

Do pós-impressionismo tirou as paisagens urbanas, o anonimato dos rostos e as cores saturadas. Em seu estúdio em Nova York, ele traduziu o imaginário dos cafés e ruas de Paris para a realidade americana. Afirmou-se no realismo e contra o abstrato, que sempre criticou duramente.

Edward Hopper

Edward Hopper em Vanity Fair (1934)

Em 'Noctámbulos' pode-se traçar a influência de 'O bebedor de absinto', de Degas, ou das pinturas azuis de Picasso. Baudelaire, poeta da cidade, enfatiza o mesmo motivo em 'El spleen de París':

“Ao entardecer, um pouco cansado, você queria se sentar em frente a um café na esquina de um novo boulevard […] O café brilhou. Até o gás exibia ali todo o ardor de uma estreia e iluminava com toda a sua força as cegantes paredes de brancura.

Hopper trata do mesmo tema, mas o leva para um lugar que nos fala de um universo interior que clamava pela arte. Sob seu olhar, a luz não é festiva, como em Baudelaire. A solidão e o silêncio não são produto da marginalização. Não há sleaze nos rostos.

Os personagens se fecham sobre si mesmos. Depois de um dia de trabalho ou talvez um encontro, eles se encontram suspenso em um não-lugar neutro, de passagem, delimitado pela luz esbranquiçada e plana que emana da parede. Eles cedem à fadiga e caem na apatia, no tédio. Eles deixam o tempo passar porque seu quarto de hotel, ou seu pequeno apartamento, os expulsa. O lar, o doméstico, lhes é estranho.

Edward Hopper

Edward Hopper com sua esposa Josephine Hopper

De frente para a cena, o observador permanece excluído, no escuro. Não há porta de acesso. O vidro se estende como uma tela em um cinema. Marca uma barreira que só pode ser vista e adivinhada, intuída.

O homem de chapéu e a garota de vermelho sentadas no bar são Edward e sua esposa, Jo, que era seu modelo e agente. Hopper era introvertido, taciturno, passando horas na frente de uma tela em branco antes de pegar o pincel.

Ele comprou um Dodge e estava a caminho do Novo México ou da Costa Oeste. Ele parou em motéis indicados por placas de neon. Tomou notas de personagens que desapareciam na noite, atrás da porta de seu quarto. ** Eu os assisti como um voyeur. **

A influência de 'Noctámbulos' tem sido extensa nas artes gráficas e na história do cinema. Ridley Scott a tomou como referência em 'Blade Runner'; Dario Argento construiu o Blue Diner à sua imagem no filme 'Deep Red' e, na Springfield de 'Os Simpsons', um Nighthawk Diner não podia faltar à sua imagem.

A obra de Hopper faz parte do imaginário global porque fala de algo que todo habitante de uma grande cidade vivenciou. Quem não sentiu a solidão depois de um dia fracassado? Quem não se refugiou na rua, num bar, sob as luzes de néon?

'Nighthawks' é exibido no Art Institute of Chicago.

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