As casas indianas mais 'bonitas' da costa cantábrica

Anonim

A imponente Villa Rosario em frente à praia de Santa Marina de Ribadesella.

A imponente Villa Rosario, em frente à praia de Santa Marina de Ribadesella.

Permitam-me –sem soar brega na Espanha– usar o adjetivo 'bonito' para descrever estes mansões de índios convertidas em hotéis que se espalham ao longo da costa cantábrica com suas cores marcantes e descontextualizadas, sua arquitetura e decoração colonial e aquelas palmeiras exóticas, símbolo da força econômica de quem voltou há um século para fazer 'as Américas' carregadas de riqueza e fortuna.

Um adjetivo popular e latino que me parece conveniente e muito apropriado, porque na verdade eles vieram de lá, do outro lado da lagoa, porque São As Casas que vieram do Mar, título, aliás, da exposição fotográfica que acaba de ser inaugurada na sede do Colégio de Agrimensores e Arquitetos Técnicos do Principado das Astúrias em Oviedo e que ficará patente ao público até ao próximo dia 8 de maio.

Vistas do Mar Cantábrico a partir do terraço da Villa Rosario.

Vistas do Golfo da Biscaia a partir do terraço da Villa Rosario.

VILLA ROSARIO, RIBADESELLA

Se há uma joia indiana convertida em hotel pela qual sentimos especial devoção, que é a Villa Rosario, uma mansão de 1914 que se ergue imponente em frente à praia de Santa Marina em Ribadesella, uma vila de pescadores no leste das Astúrias enquadrada entre o Golfo da Biscaia e os Picos da Europa.

E dizemos jóia porque Não há casa senhorial no calçadão da Princesa Letizia que se destaque mais por sua arquitetura impressionante: com os seus cintilantes azulejos vitrificados –em forma de escamas–, as suas torres assimétricas, as suas varandas, terraços e alpendres, e aquela cor azul cerúleo, reflexo do mar com que igualmente enfrenta e abraça.

Gostamos de seus excessos, de seus elementos originais (atenção às galerias envidraçadas e à escadaria esculpida em madeira maciça de cerejeira), à sua decoração de estilo colonial (peças de antiquário misturadas com o mobiliário que se encontra no edifício) e àqueles quartos delicados (seis do 19 com vista para a praia e o mar ) que nos fazem sentir como aqueles Marqueses de Argüelles que inventaram este spa asturiano no início do século passado.

Um dos quartos da Villa Rosario.

Um dos quartos da Villa Rosario.

Mas acima de tudo valorizamos o interesse da propriedade há uma década em tornar a estadia na Villa Rosario uma experiência completa que deixa um gosto especial na boca. É por isso que a sua oferta gastronómica está sempre entre as melhores do Principado. Numa dança de sinergias em que a arquitetura traz a gastronomia à dança (e vice-versa).

Uma coreografia à qual Marcos Granda, sommelier com duas estrelas Michelin (uma nos restaurantes Skina e outra no Clos), acaba de acrescentar suas harmonias e (com)passes. Há quatro meses o espanhol está à frente do novo restaurante do hotel: Ayalga, que significa tesouro escondido em asturiano.

Um projeto de alta gastronomia da Granda em Villa Rosario que pretende atrair tanto a atenção com os seus menus de degustação (curtos e longos) como as suas outras propostas, mas que o fará em Ribadesella voltando às suas raízes asturianas, ao produto da terra. Cuidado com o menu de champanhe com bolas de 45 pequenos produtores!

Marcos Granda nos reserva muitas surpresas no novo restaurante Ayalga.

Marcos Granda nos reserva muitas surpresas no novo restaurante Ayalga.

A MANSÃO AZUL DE CORVERA DE TORANZO

Entre bitcoins e movimentos de antiguidades Covadonga Fernandez, proprietário de La Casona Azul de Corvera e autor do Blockchain Observatory, um site de referência sobre o universo blockchain (a transação em cadeia de dados e criptomoedas, dita de forma ultra-resumida).

Jornalista de profissão (trabalhou durante muito tempo no jornal ABC), há 23 anos – os mesmos anos que seu filho tem agora – decidiu comprar este casa dos indianos declarada Casona Palácio embarcar numa nova aventura que a levaria a decorar com muito bom gosto e ecletismo um edifício que chama a atenção por fora pela cor azul da sua fachada e por dentro, pela piso de ladrilho hidráulico original em forma de xadrez

“A reabilitação foi caprichosa. Os azulejos são feitos à mão de forma artesanal numa oficina de Oliva (Valência), que na época era especialista em fazer os pisos em forma de tapete dos palácios marroquinos”, conta Covadonga, que respeitou os elementos originais durante a reforma.

A Casa Azul de Corvera pintada como o resto das casas com as cores vistas na América.

A Casa Azul de Corvera, pintada como o resto das casas com as cores vistas na América.

Não sobrou muitos móveis, sim, daquela época, apenas um enorme guarda-roupa na sala que Covadonga teve que restaurar. Outros tesouros foram encontrados pela jornalista para agradar e desfrutar de sua curiosidade inata: “Os donos devem ter viajado muito pelos Estados Unidos. Tenho cartas super curiosas. Eles tinham família no México e lhes enviaram por escrito o que estava acontecendo lá. Tenho a revolução mexicana escrita em letras; também uma interessante coleção de fotos do final do século XIX”.

Um jardim de 5.000 metros –coroado com palmeiras exóticas, como manda a tradição indiana– circunda La Casona Azul, que com seus dez quartos é um lugar idílico para se aproximar da Cantábria para conhecer a cidade de Corvera de Toranzo, mas também Santander e as praias de sua baía, bem como os bancos de areia próximos de Suances e Oyambre, em Comillas.

oh! Por certo, a estadia pode ser paga em bitcoins –como comanda a inovação milenar–.

Linda entrada com piso hidráulico em forma de tabuleiro de damas em La Casa Azul de Corvera Cantabria.

Linda entrada com piso hidráulico em forma de tabuleiro de damas em La Casa Azul de Corvera, Cantábria.

A MANSÃO DE AMANDI, VILLAVICIOSA

Bárbara Bucero, co-proprietária da La Casona de Amandi por seis anos, confessa que ainda há muito o que investigar sobre a história que envolve este edifício, declarado único em 1991. Existem várias versões que ainda não foram contrastadas sobre seus proprietários originais, que “acreditamos que eram daqui, de Villaviciosa, e viajaram para o México, onde tinham uma chapelaria em 1860”, nas palavras de Bárbara.

destaque-se neste Mansão asturiana de cor branca sua imensa e intocada galeria original, precisamente restaurado e sustentado por colunas de ferro. E os seus espaços estão repletos de antiguidades, pois antes de ser um hotel, na que também é conhecida como Quinta La Ballina, vivia uma família de antiquários, pelo que podemos encontrar pianos, móveis do século XVIII e gravuras românicas asturianas.

La Casona de Amandi e sua galeria original mais perfeita.

La Casona de Amandi e sua galeria original mais perfeita.

Também enorme (não mais e nada menos que 11.000 metros quadrados) é o Jardim francês para o qual a galeria olha, que se torna para o viajante uma luxuosa torre de vigia – equipada com coquetes e contextualizados assentos de vime – para observar do alto e com nostalgia as árvores centenárias que rodeiam o edifício.

Localizada em Amandi, no concelho de Villaviciosa, La Casona de Amandi (apenas nove quartos) Instalado – entre prados e pomares – no vale do rio Valdediós, o hóspede vem sobretudo em busca de tranquilidade, como Bárbara nos revela, mas também encontra uma gastronomia sustentável baseada em produtos locais e ecológicos: “o peixe chega diariamente do porto de Tazones e as frutas e legumes dos pomares asturianos, portanto, nosso menu de degustação de fim de semana (cinco pratos) e jantares de hotel (três) variam de acordo com o que temos a cada semana”.

Café da manhã na La Casona Azul de Corvera em Villaviciosa.

Café da manhã na La Casona Azul de Corvera, em Villaviciosa.

A QUINTA DE VILLANUEVA E A CASONA DE LA PACA

O mesmo número de quartos, num total de 19, tem cada uma destas casas indianas convertidas em hotéis por Montse e Carmelo. A primeira, a Quinta de Villanueva, situa-se às portas dos Picos de Europa, em Villanueva de Colombres, e foi construído em 1908 por seus proprietários originais, emigrantes espanhóis que retornaram do México e do Chile com uma grande fortuna.

catalogado tanto a fazenda quanto a casa como Patrimônio Indígena, Como nos conta Paula, a gerente, suas varandas e mirantes de pedra e madeira e sua colunata na entrada são impressionantes por fora, e por dentro sua portaria de mogno, sua escadaria ornamentada e os afrescos em seus tetos.

Quinta de Villanueva uma das Casas que vieram do mar.

Quinta de Villanueva, uma das "Casas que vieram do mar" (exposição no Colégio de Agrimensores das Astúrias, Oviedo).

Por sua vez, La Casona de La Paca, em Cudillero, no desconhecido oeste das Astúrias, é um pouco mais antiga, pois remonta ao século XIX, mas sua origem é comum: a de um índio, neste caso José Martínez , que emigrou para 'fazer as Américas' e voltou carregado de dinheiro suficiente para construir uma ostensiva 'mansão de estilo colonial' para mostrar sua riqueza.

"A palmeira que tivemos que plantar nós mesmos. Este índio, um comerciante de tabaco que não tinha herdeiros, veio apenas porque tinha que provar sua fortuna e voltou a Cuba", comenta com graça Juana, a gerente do hotel, que também nos conta que a casa está catalogada e registrada no Colégio de Agrimensores e Arquitetos Técnicos do Principado das Astúrias.

Cudillero de um dos quartos de La Casona de la Paca.

Cudillero de um dos quartos de La Casona de la Paca.

Juana também nos explica que a estrutura do esta casa é mais retangular do que as do leste das Astúrias, muito mais parecidas com as fazendas mexicanas, porque o proprietário índio voltou de Cuba, e o costumeiro era tentar imitar as arquiteturas com que viveram na América.

Tudo é de cor intensa e exala alegria em esta impressionante mansão convertida em hotel, desde sua elegante decoração com toques coloniais até sua pequeno-almoço caseiro à base de produtos típicos da terra: Torrijas, casadielles, frixuelos, donuts de anis, pastelaria artesanal... Também o seu impressionante jardim, onde neste caso é um carvalho de 400 anos que subtrai destaque à palmeira.

O Caribe parece representar La Casa de la Paca.

O Caribe (Asturiano) parece representar La Casa de la Paca.

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