Volta ao mundo através de 50 grafites

Anonim

Graffiti 'Eu não quero ser uma princesa eu quero ser uma pantera na Cidade do Panamá

'Não quero ser princesa, quero ser pantera', de Martanoemí Noriega

o grafite eles têm sido objeto de disputa desde que começaram a encher os muros das cidades. Há aqueles que os defendem firmemente e aqueles que os odeiam sem a menor cerimônia. O professor e escritor José Félix Valdivieso ele está no primeiro grupo, pois para ele são arte autêntica. E prova disso é o seu livro Graffiti do mundo, onde compila um total de 50 obras de todo o planeta que o inspiraram.

Segundo ele, essa disputa sobre definir ou não as formas de expressão como arte vem acontecendo ao longo da história. “Pinturas formais também aconteceram no passado. Se o pintor tocava num assunto sacrílego, que ia contra os cânones, muitas vezes não era considerado arte. Ou se criou um movimento que se levantou contra ele”, sustenta. E dá como exemplo a arte erótica: “Antigamente, esse tipo de arte não era aceito pelo grande público. Uma censura que mostra que as formas de ser ilegal evoluíram ao longo do tempo”. sintetizar.

Grafite 'Feito em Deus'

'Feito em Deus'

O que ele deixa claro é que para ele são arte, pois no final São outra forma de expressão. E foi por isso que no final de 2014 ele concebeu este livro, no qual inclui grafites que vão desde uma simples frase até um mural muito elaborado. Qualquer representação que o provocasse. “Naquela época eu estava viajando muito e tive a ideia de toda vez que vi um que me atraiu, escreva sobre ele”.

Escreva sobre aqueles grafites que inspiraram algo, seja um conto ou uma história relacionada ao que a obra esconde. Assim, por meio de suas páginas, as pinturas se entrelaçam com textos que narram situações vividas pelo próprio Félix ou curiosidades relacionadas ao grafite, como a de Churchill e o ornitorrinco. “A história que conto no livro sobre isso é muito curiosa. Eu não sabia que esse líder britânico gostava tanto de animais. E é que, em plena Segunda Guerra Mundial, Churchill só enviou reforços para a Austrália, que estava sendo bombardeada pelos japoneses na época, quando lhe enviaram um ornitorrinco. Um animal que acaba chegando morto ao som das bombas”, resume.

Grafite 'Nevermore 1933' em Frankfurt

'Nunca mais 1933'

GRAFFITI, UMA AFIRMAÇÃO DO EU

De acordo com José Félix Valdivieso, uma das melhores explicações de por que o grafite começou a se popularizar na segunda metade do século passado foi dada pelo filósofo Jean Baudrillard. “No contexto dos anos 70, em sociedades em pleno desenvolvimento onde o urbano deixava o ser humano em paz, o grafite funcionou como uma afirmação da personalidade, do eu”, detém. É por isso que as mensagens que eles transmitem são tão importantes.

Assim, segundo o autor, funcionam como o prelúdio das redes sociais. Os artistas traduzem a mesma mensagem por toda a cidade ou a fixam nos trens para que se movam por ela. “As pessoas querem que você saiba como elas se sentem, assim como as mídias sociais. Um uivo com o qual reivindicar existência. Somos muitos e nos perdemos na massa”, pontos.

Mas, além dessa reafirmação do eu, o grafite carrega outra série de características. Tal como a transitoriedade. José Félix Valdivieso descreve-o através do termo da filosofia japonesa macaco inconsciente , que sustenta que a expiração das coisas é o que as torna belas. “Os japoneses sempre têm uma reflexão muito boa sobre o cultural e o estético. Com esta expressão chegam a dizer que se tudo fosse eterno não teria essa fragilidade nem nos preocuparia tanto porque sempre podíamos ver”. sintetizar.

Uma expressão que se relaciona diretamente com o termo japonês wabi sabi , o que significa que a beleza é encontrada na imperfeição dos objetos. Algumas palavras que valorizam a busca do único. “No graffiti você tem muito disso também. Os artistas trabalham sob pressão e não podem retocá-los." diz o especialista.

Grafite 'Snowden' no Brooklyn

'nevado'

OBRAS DE ARTE, MAS TAMBÉM FRASES OU PALAVRAS

Nos grafites escolhidos por José Félix Valdivieso, uma das surpresas é que muitos deles não são pinturas grandes ou elaboradas, mas frases ou palavras que pelo local onde se encontram chamaram a atenção do escritor. "Eu estava procurando por que diabos eles fazem isso não que fossem grandes obras. Fico impressionado com o tipo de mensagem que eles pintam”, explica.

Assim, não é de estranhar que se seja confrontado no livro com a frase 'Os loucos'. “Encontrei em Amsterdã, onde o grafite é proibido, e principalmente em espanhol. Foi um trabalho pequeno, mas A pessoa atrás de mim chamou minha atenção. Por que ele colocou isso? Ele também se conectou comigo porque meu avô, quando saía na rua, sempre dizia que os loucos já estavam lá, que para ele era o barulho.

Outra frase que teve grande impacto sobre ele foi ** 'Nie wieder 1933' (Never Again 1933)** no centro de Frankfurt . “Eles pintaram essas palavras seguidas pelo ano em que Hitler chegou ao poder. Pelas suas conotações e pelo local onde se encontra, é um graffiti muito poderoso”. Ou um com a palavra 'Snowden' pintado no meio Brooklin. “É preciso lembrar que os Estados Unidos são um país livre, mas onde certas coisas não podem ser ditas. Chamou minha atenção que o nome dele estava lá, quando Ainda há feridas abertas do vazamento de Snowden sobre a negligência realizada pela Agência de Segurança Nacional do país".

Jos Flix Valdivieso autor do livro Graffiti do mundo

José Félix Valdivieso, autor do livro Graffiti do mundo

Mas além dos grafites que são poderosos pelo que expressam, há também outros que são autênticas obras de arte. Tal como "Eu não quero ser uma princesa, eu quero ser uma pantera." Nele, uma garota com um chapéu de pantera é descrita com essa frase. “Gostei muito de como o autor fez isso. O grafite é encontrado em uma parede legal do Cidade do Panamá. Consegui falar com sua criadora e ela me disse que a ideia surgiu de uma conversa que ele ouviu entre uma menina e sua mãe”, Explique.

E, para fechar o livro, quase ironicamente, ele planta um grafite com um 'Feliz 2020'. “Acho importante não perder o humor. Só um grafiteiro pensaria em colocar algo assim na parede”, ri.

Capa do livro 'Graffiti do mundo'

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Capa do livro 'Graffiti do mundo'

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