Lagos e Tavira: as joias do Algarve

Anonim

Lagos e Tavira as joias do Algarve

Vista da torre sineira da igreja de Santiago, no centro histórico de Tavira.

Quando se atravessa o Guadiana e se entra em Portugal, nada parece indicá-lo a não ser a placa que nos recebe na fronteira. As estufas instalaram-se em montes ocres carregados de oliveiras e zimbros, as cegonhas erguidas nos seus ninhos e as aldeias brancas repousando placidamente à sombra das montanhas planas pertencem tanto à paisagem andaluza como à portuguesa, sendo primos em primeiro grau.

Por isso, os árabes chamavam as terras a oeste do Guadiana "al garb al-Andalus", "o oeste de Al-Andalus", e dedicavam tanto amor a elas quanto às terras banhadas pelo Guadalquivir. Quando os muçulmanos marcharam, levaram consigo suas lágrimas e lembranças, deixando para trás duas jóias para usufruto dos cristãos: Lagos e Tavira.

Lagos e Tavira as joias do Algarve

Ponte romana com sete arcos e cidade sobre o rio Gilão, Tavira.

TAVIRA

A estrada para o Fim do Mundo, Cabo San Vicente, passa por Tavira desde tempos imemoriais. Os fenícios, para quem não havia lugar suficientemente longe, construíram um empório comercial às margens do rio Gilão, perto de sua foz, que mais tarde foi ocupada pelos tartessianos. Ninguém resistiu à posição vantajosa daquele porto, que cresceu para adquirir conotações de cidade durante a dominação romana.

Finalmente, Os árabes de al-Andalus seriam os que construíram a bela ponte de pedra que atravessa o Gilão e dotariam Tavira de uma arquitetura que ainda mantém. Telhados planos, fachadas caiadas de branco e campanários em forma de minarete que nos levam além-mar. África reflecte-se em Tavira, e Tavira sente-se atraída por África, como provam as suas cores, a alegria dos seus vizinhos e a força de um sol que bate nos azulejos e nos terraços onde se bebe vinho verde.

Lagos e Tavira as joias do Algarve

Pormenor de uma porta nas Caldas da Rainha.

Na margem leste do rio, Anexado à ponte de pedra, ergue-se o bairro outrora ocupado por comerciantes, artesãos e marinheiros, hoje comprimido entre as ruas Cándido dos Reis e Jacques Pessoa. É curioso observar as fachadas dos antigos armazéns, a maioria construídos em datas após o terramoto de Lisboa (1755), cujo tsunami devastou os bairros de Tavira situados fora das muralhas.

Os portugueses, um povo resiliente por direito próprio, demoraram a vencer a investida dos elementos, mas Tavira recuperou o esplendor comercial que iluminou a sua riqueza. Venezianos, genoveses, catalães, ingleses e franceses construíram aqui armazéns e lojas, porque por aqui passava o caminho que levava à África e à Indonésia Antes e depois da construção do Canal de Suez.

Atravessando a ponte de pedra novamente, vamos deparar-nos com as muralhas medievais que cercam a cidade velha de Tavira. As ruas estreitas e seguem caminhos verticais em direção ao castelo. O Museu Municipal, junto ao topo onde se ergue uma igreja com tons de mesquita, tem importantes Peças fenícias, tartesias, romanas e andaluzas, as mesmas que decidiram construir uma fortaleza que funciona como um miradouro incomparável. O jardim que ocupa o pátio de desfiles é sempre radiante, e muitas vezes é frequentado por estudantes que buscam descanso à sombra das árvores.

Tavira a costa banhada pelo Mar Mediterrâneo

Tavira, a costa banhada pelo Mar Mediterrâneo.

Depois de ver o castelo, O melhor é caminhar tranquilamente pelas ruelas do centro até descer suavemente até à Rua del 1º de Maio. Lá, pode-se divertir observando as casas típicas da aristocracia, com um aspecto que pode ser confundido como 'colonial', mas que foi trazido para as colónias pelas mesmas pessoas que as construíram em Tavira.

Merece destaque a casa que ocupa o número 15, com sua varanda aberta, ou as fachadas que dão para a praça Dr. Marcelino Franco. Toda a riqueza de Tavira vem do seu comércio, debruçado como está no horizonte infinito do Atlântico, porta de entrada para o Novo Mundo.

O mar, porém, nem sempre foi sinónimo de riqueza para o Algarve. Durante séculos, significou perigo nas mãos de piratas e corsários que, por seu próprio poder ou sob bandeira inimiga, ameaçavam estas costas. Muito perto de Tavira, existe a pequenina vila de Cacela Velha, cujas casas se amontoam em torno de uma igreja, guardada por um grosso muro que circunda uma colina erguida sobre um imenso banco de areia.

Um pequeno barco de madeira liga Cacela Velha às praias que a protegem do mar, atravessando o sapal deixar os visitantes no meio de um deserto de dunas onde Os amantes de banhos e caminhadas a solo terão encontrado o seu paraíso.

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Cacela Velha, Portugal.

LAGOS

Portugal, como a Espanha, tem a sua própria Reconquista mal nomeada. O Algarve foi conquistado pelos portugueses em 1249, embora devido a conflitos com Castela, o seu domínio não fosse reconhecido após 1267. Com a conquista do Algarve, Portugal atingiu a sua máxima expansão territorial, consolidando fronteiras que permanecem até agora, as mais antigas da Europa.

No entanto, este abrigo logo ultrapassou as ambições dos portugueses, que tiveram que contemplar como Castela continuou a ganhar territórios em al-Andalus e no Magrebe, e Aragão estabeleceu seu domínio na Sicília e na Itália. Em 1312, quarenta e cinco anos após a conquista do Algarve, O rei Dionísio I de Portugal encontrou a solução para a opressão sentida pelo seu reino quando se viu oprimido pela expansão castelhana: construir uma frota nacional e partir para o mar.

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Lagos, Portugal.

O porto escolhido para liderar a Companhia Marítima de Portugal, missão em que durante os séculos seguintes os reis dirigiriam os seus esforços, nobres e plebeus, foi a antiga cidade de Lagos. Se Lisboa era o fim, o grande mercado onde eram expostos e vendidos os produtos exóticos adquiridos no Norte de África e nas costas da Guiné, Lagos foi o estaleiro, armazém, quartel e ponto de partida das expedições da então maior marinha da Europa.

A Lacóbriga romana, próspera desde tempos imemoriais devido ao seu excelente porto natural, Passou de ser o último reduto árabe do Algarve a ser a casa de reis marítimos como Henrique, o Navegador, e o local onde as especiarias da Índia pisaram pela primeira vez em solo português. Portugal conseguira despejar-se no mar e sentia-se abençoado pelas evangelizações que realizava nas suas colónias: até que o terramoto de Lisboa destruiu a sua efígie, inspirando tristes fados.

Lagos e Tavira as joias do Algarve

As ruas de Lagos estão cheias de charme.

Lagos se recuperou totalmente da fúria do terremoto e tsunami que a atingiu, e Embora das construções medievais restem apenas setores da muralha e do seu castelo, os trabalhos de reconstrução foram realizados numa altura em que o gosto pela tradição ainda não tinha sido esquecido.

Os mercadores reconstruíram seus palácios e o mercado de escravos, o primeiro do gênero construído em 1444, foi novamente construído junto ao porto. Mercadores estrangeiros, especialmente ingleses e venezianos que usavam Lagos como importante escala entre o norte da Europa e o Mediterrâneo, voltaram a construir armazéns e palácios como os que se podem admirar à volta da Praça Luís de Camões. E o desfile de 25 de abril estava cheio, como antes do terremoto, de especiarias, tecidos, ébano e marfim, tornando-se, como é agora, uma das ruas comerciais mais agradáveis do Algarve.

Na atualidade, Lagos baseia a sua economia no turismo e numa apreciada indústria conserveira. A maioria dos visitantes é justamente atraída pelas praias que abrem antes de chegar a Punta da Piedade, como as praias do Camilo e Dona Ana. São belas enseadas cercadas por falésias de arenito, a mesma rocha macia que mal resiste às ondas do mar, desintegrando-se e criando ilhotas, grutas, arcos naturais e enseadas que só podem ser alcançadas de barco. A água é transparente, ideal para mergulho, e o clima, mesmo no inverno, está quente: mel para os milhares de aposentados ingleses, franceses, nórdicos e alemães que decidem aposentar-se em Lagos para usufruir dos benefícios do Algarve.

Lagos e Tavira as joias do Algarve

A costa de Lagos tem uma grande atracção turística.

Para terminar uma digna visita a Lagos, É obrigatório desfrutar da sua comida. Os queijos portugueses, especialmente os de cabra, merecem passar algum tempo com eles, bem como os inúmeros tipos de conservas que a cidade possui. No Arco da Velha (r/do Ferrador, 22) atendem tradicional, engarrafado à mão nas aldeias perto de Lagos, e oferecem-lhes atum, cavala, sardinha e cavala, embora o melhor é aquele com anchovas com alho.

A decoração do local é típica de uma taberna portuguesa, e poucos turistas param nele por ser um pouco mais distante da vida noturna, repleta de locais enganosos. A despedida do Algarve merece um jantar local e ao mesmo tempo cosmopolita, tal como Lagos e Tavira. Esperamos que o turismo de massa, sempre tão invasivo, continue a respeitar a luz destas duas joias.

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