Como se tornar autonautas do cosmos

Anonim

Cortzar de A a Z Ed. Alfaguara

Cortázar de A a Z, Ed. Alfaguara

A história terna e louca que Júlio Cortázar S Carol Dunlop eles escreveram em Os Autonautas da Cosmotrack nos dias de hoje adquire outra dimensão. Se você olhar com olhos de cronópio, funciona como uma previsão de outra forma de viajar, embora predizer seja um ato tão pouco cortazariano e tão pouco cronópio.

Os Autonautas da Cosmotrack É a história de uma viagem que aconteceu na realidade. Cortázar (quase 70 anos) e sua então esposa decidiram ir em uma aventura.

Cortzar de A a Z Ed. Alfaguara

Cortázar de A a Z, Ed. Alfaguara

Foi, como poderia ser de outra forma, absurdamente poética e poeticamente absurda. Tratava-se de viajando de Paris a Marselha na Autostrada du Sud em uma van Volkswagen surrada que eles batizaram com o nome de um dragão wagneriano, Fafner.

A viagem teve alguns regras rígidas. O mais importante é que viajantes, a quem chamaremos de autonautas, nunca poderiam sair ou desviar da estrada. poderia pare em dois pontos de ônibus (áreas de descanso, aéreo, em francês) por dia e dormir no segundo; a via expressa tinha 65 no total. Devem olhar para tudo o que veem e vivenciam com o espírito de um entomologista e, por último, eles escreveriam um livro da expedição. Um exército de amigos amigos lhes forneceria comida.

Por que aquela viagem? Por que esse percurso? Por que parar em paradas de ônibus? Quem se importa com os porquês.

Os Autonautas da Cosmotrack foi publicado em 1983 como diversos: contém um diário de viagem, fotografias (com legendas hilárias), recortes de imprensa, histórias e ilustrações de Stephane, O filho de 14 anos de Carol Dunlop.

Se você, "oh, leitor pálido e intrépido" (como nos apelou Cortázar), tenha por perto, leia ou releia com os olhos de abril de 2021. Aqui estão algumas das lições que podemos tirar para a nova era deste livro delicioso:

VOCÊ DEVE TER UM PLANO

Mesmo que só faça sentido para nós, mesmo que seja absurdo (quanto menos útil oficialmente a viagem, melhor) , mesmo que seja pequeno como ir procurar um pássaro ou nossa primeira escola. Um plano é o trampolim.

Sempre os fizemos, mas agora mais. Já sabemos o que é não viajar: quando o fazemos, temos que pensar bem. Ao longo do caminho, o plano pode se tornar outra coisa ou ser esquecido. Aceitemos que “como sempre, a prática envia ao diabo qualquer teoria muito segura de si mesma”. E o que mais dá.

OS PREPARAÇÕES DA VIAGEM JÁ ESTÃO A VIAGEM

A expedição começa quando você começa a pensar nela. Cortázar dedica 30 páginas do livro para contar os prolegômenos da viagem. Ele ainda nos escreve a lista de compras que ele e Carol fizeram antes de sair: “uísque a granel, id. vinho, uma dúzia de ovos, duas garrafas de água mineral, queijo parmesão ralado, manteiga, azeite, vinagre, mostarda, Nescafé, sobremesas (conservas frutas, cremes), presunto, atum, sardinha, maionese de tubo….” e um longo etc.

Gostaremos de viajar mais do que nunca, porque sabemos o quanto esse mundo está ameaçado. Por isso, vamos nos deliciar com cada detalhe: na mala, nos mapas e até no sanduíche que vamos preparar para a viagem.

La Fafner de Stéphane Hèbert

O Fafner, de Stéphane Hèbert

NÃO FIQUE COM PRESSA

Boas viagens sempre esperam. Julio e Carol levaram vários anos para realizar sua ideia; a vida entrou no caminho. Não há necessidade de forçar: viajaremos quando pudermos. Como o próprio Cortázar escreve. "Quanto tempo levou Magellan para zarpar?"

Não há vírus que possa nos impedir de visitar Villa Copenhagen ou visitar Columbus, Indiana. Viajaremos sem ansiedade, para não 'aproveitar' dias de folga, ou descontos. Aproveite, que verbo prosaico.

NÃO VAMOS TER UMA PAUSA

Se quisermos fazer uma viagem, Não vamos parar de lutar por ele. Cortázar quis fazer essa loucura e o fez quando estava prestes a completar 70 anos. Não há idade para qualquer viagem. Não nos deixemos enganar dizendo-nos o contrário.

VEM COMIGO OU VEM COMIGO

A empresa é tudo. É mais importante que o destino e o plano. Você tem que viajar com alguém que gostamos e esse alguém pode ser nós mesmos; alguém com quem podemos ficar quietos.

Cuidaremos bem do co-expedidor e também dos cúmplices, pessoas que entendem nossos planos. Um bom critério é dar-lhes este livro: se entrarem nela e entenderem a utilidade do inútil e a realidade do surreal, podem ser parceiros de aventura.

HONRAMOS O FAFNER

Nos últimos anos temos tratado com desdém os meios de transporte que nos levaram de e para nós, como se estivessem ao nosso comando. É hora de dar-lhes a importância que eles têm, que é tudo.

Cada viagem é graças ao que nos leva. Vamos agradecer então...

Cada viagem é graças ao que nos leva. Vamos agradecer, bem...

Cortázar admite que Fafner é o terceiro autor do livro; quem não gostaria de abraçar esta van barulhenta e amigável. “Não há dúvida em nossa mente que Fafner é o terceiro explorador e que ele aprova esse avanço lento e profundo, enquanto outras viagens podem ter lhe parecido frívolas demais, rédea solta demais, pois não achamos que dragões e dragões vão gostar . elefantes”.

Toda viagem é graças ao fato de que algo nos leva. Sejamos gratos, então: vamos escolhê-lo conscientemente e nos preocupar em saber como é, seja trem, avião ou barco a remo. A viagem é com ele.

A ESTRADA É A VIAGEM

Cortázar e Dunlop se importavam em chegar a Marselha? Rir de rir Na verdade, eles se questionam, com seu humor característico: "Marselha existe?"

aos exploradores eles se importavam com o que acontecia nos pontos de ônibus, as pessoas que encontravam, a música que ouviam (tangos, Ella Fitzgerald, Boulez, Susana Rinaldi, Schubert), os livros que lêem Consideravelmente deprimido pela versão em espanhol de um livro de viagens de Werner Herzog, fui ventilar ao norte do estacionamento.

Em grande detalhe Dizem-nos todos os dias o que comiam: "Jantar: bastante suntuoso dadas as circunstâncias: frios, rave de aipo, beterraba, milho, pão, café." No movimento encontram o sentido da jornada. “Quanto mais avançamos, maior a liberdade que parecemos desfrutar. E não, de jeito nenhum, porque estamos nos aproximando de Marselha. Ao contrário, provavelmente o fato tendo-se afastado do ponto de partida e tendo perdido simultânea e completamente de vista o fim da viagem, é o que dá essa qualidade”.

Os viajantes acabam chegando em Marselha, mas… "A vitória não nos deixa felizes como esperávamos, muito pelo contrário." A viagem não começou, acabou de terminar.

ELOGIO DA Lentidão

As regras do jogo impõem aos autonautas um ritmo próprio. Eles só podem parar em duas paradas por dia, não importa o quão longe estejam. Não se trata de devorar quilômetros, mas de fazer a viagem. A sua era lenta (durava um mês, aproximadamente) e Cortázar escreve sobre o ritmo: “Cosmonautas na estrada, à maneira de viajantes interplanetários que observam de longe o rápido envelhecimento daqueles que continuam sujeitos às leis do tempo terrestre , O que vamos descobrir quando entrarmos em ritmo de camelo depois de tantas viagens de avião, metrô, trem?

Mesmo eles, seres relaxados per se, acham difícil assumir esse ritmo de camelos. Para nós, depois de décadas de viagens rápidas será difícil para nós aceitar que agora talvez as viagens sejam menores e mais lentas. Os destinos são alcançados quando chegam. Levaram 33 dias.

DEFESA DE VIAGENS EM QUE NADA ACONTECE

onde todos os dias acontecem sem grandes surpresas. Está tudo bem ter férias de rotina, em que todos os dias acontece, aparentemente, o mesmo. Na realidade, a mesma coisa nunca acontece. “Sentimos que vivemos com aquela intensidade que só o fato de não fazer nada pode nos dar”. Cortázar abraça rotina e repetição: "O paradeiro é o que são, pobres anjos, mas cada um representa uma modificação interessante dentro do esquema único."

Os autonautas do cosmopista Ed. Alfaguara

Os autonautas do cosmopista, Ed. Alfaguara

A consultoria de tendências The Future Laboratory prevê em seu último relatório que depois de muito tempo buscando transformar, crescer e progredir, Agora vamos viajar em busca do tédio prático.

SIM A VIAGENS IMPERFEITAS

A vida não é perfeita, por que as viagens ruins deveriam ser? Por que os carregamos com essa pressão? Não vamos aplicar a ilusão de controle que fazemos com a vida. Os autonautas foram mimados por Fafner, adoeceram, encontraram obstáculos, às vezes chovia sobre eles. Se chover, tiramos fotos com capa de chuva, como super-heróis sem valor, como Julio fez com Carol. Sempre a favor das viagens dos cronópios.

JOGOS SÃO COISA MUITO SÉRIA

Além disso, imperfeita, a vida é ou pode ser um jogo. Cortázar (El Lobo), 68 anos, e Dunlop (La Osita), 34 e doente, decidiram planejar essa viagem como quem planeja um jogo. Eles também fazem isso um jogo em que o amor se infiltra em cada página. Ele escreve: “Lembrei-me dos jogos quando tinha oito, dez anos: isso pode ser feito, isso não pode ser feito, sem explicação ou reflexão”. Não há nada que justifique uma viagem que quer ser um jogo.

Cortázar orgulhava-se, na sua idade, de não ter mudado e não ter sucumbido à suposta seriedade da vida adulta. "Senti-me grato", escreve ele, "por não ter mudado, quase no fim da vida, naquele plano que tantos outros substituem por seriedade ou ações ao portador". Todos os jogos o jogo.

TODOS OS ESTACIONAMENTOS O ESTACIONAMENTO

A beleza está em todos os lugares. Você só precisa saber como olhar para isso. Meses sem viajar confirmarão isso para nós. Estacionamentos, pontos de ônibus, mesas de camping, motéis... A jornada dos expedicionários era simples, com situações hostis, quase precárias. Porém, nunca há uma reclamação; pelo contrário, está cheio de pequenas celebrações. Estes são alguns exemplos de que a beleza está nos olhos de quem vê:

“Parkinglandia é lindo; é nosso, somos livres nele e o amamos”

“Aconteceu que estávamos lendo ao lado de Fafner, sob árvores cheias de pássaros que riem da ecologia e parecem muito felizes tão perto da fumaça da gasolina e do barulho da estrada”

Nesta viagem não há monumentos ou castelos, pelos quais passam.

“Almoço: Frango, maçãs, café. 13h55 Partida. 35ºC. 13h56 Castelo fortificado à esquerda. 14h Moinho de vento à direita.

Cortzar de A a Z Ed. Alfaguara

Cortázar de A a Z, Ed. Alfaguara

Os viajantes encontram beleza e surpresa nas visitas de amigos. Eles se aproximam da rodovia para ver como estão os expedicionários e ver com os próprios olhos “o misterioso prestígio da expedição”.

"Quando sair ele nos deu duas garrafas de vinho, aquele agradável ouro líquido que agora, depois de sua partida, estamos bebendo para ele e com ele. Cerejas e réu... Ninguém trouxe coisas assim para o pobre Colombo nos primeiros dias de sua viagem”.

SEMPRE HÁ FUTURO

Todas as jornadas terminam e muitas não começam. Alguns de nossos planos de viagem foram suspensos. O autonauta Cortázar levou vários anos para atravessar a rodovia de paradeiro a paradeiro. Sejamos pacientes: haverá novas viagens.

“Se nossos sonhos desabarem sobre nós, como tememos, teremos que pensar em novas e variadas expedições. Afinal, o mundo está cheio de paradeiros, onde talvez nos esperem sonhos de tamanha riqueza que valem todas as viagens de ida e em uma dessas nenhuma volta." Muitos paradeiros nos esperam.

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