Quem não gostaria de ser Lady Bird.
Uma das primeiras coisas Greta Gerwig escreveu para seu primeiro filme como diretora solo, Joaninha, "Foi a cena da faculdade em que alguém pergunta a Lady Bird de onde ela é e ela mente dizendo São Francisco."
Porém, Lady Bird, a protagonista é na verdade de Sacramento , a desconhecida capital da Califórnia, a cidade no meio de um vale agrícola esquecido entre Los Angeles, San Diego ou, claro, San Francisco.
Você nunca se viu nessa pequena mentira? Essa tendência de dizer que você é da maior cidade e mais próxima da pequena cidade provinciana em que você cresceu.
Mãe e filha, uma relação tão bela quanto complexa.
Lady Bird mente porque tem vergonha, porque sabe que, no imaginário coletivo, São Francisco é melhor que Sacramento. Ou assim ele pensa.
Lady Bird nem se chama Lady Bird, o nome dela é Christine, mas ele odeia seu nome e se rebatiza em um ato de rock & roll e autodeterminação, de reconhecimento de sua identidade.
Também é um ato de rebeldia adolescente, mais uma prova de rejeição a uma realidade que consideras, pela ignorância da juventude, inferior ao que mereces. E por isso você culpa aqueles que lhe deram esse espaço.
Lady Bird, em seu último ano do ensino médio, vendo a liberdade cada vez mais perto, ele se rebela contra seus pais, Com quem, aos 17 anos, não vive o seu melhor momento, principalmente com a mãe que se recusa a ceder aos seus caprichos.
Greta Gerwig fez história com Lady Bird.
E há outro dos momentos em que é impossível não se identificar com essa garota que luta entre ser diferente e se encaixar com todos. Como aconteceu com todos nós naqueles anos em que, consciente ou inconscientemente, você ainda estava se encontrando.
Aqueles sentimentos que iam da vergonha ao amor, da dependência à desobediência, o desejo de abandonar seus pais, mas precisar deles quando a primeira falta de amor o atacou; o desejo de sair de casa para começar o que realmente será sua própria vida. Ou assim você pensa.
Por muito tempo Lady Bird foi chamada mães e filhas porque Greta Gerwig muda o relacionamento romântico clássico de qualquer filme adolescente, a ideia de encontrar o Príncipe Encantado, o primeiro grande amor, por a relação absorvente, complexa e insubstituível entre uma filha adolescente e sua mãe.
Conte-me mais sobre a vida adulta.
Aquelas brigas que faziam sentido para você e em que sua mãe só conseguia respirar fundo e culpar os hormônios. A nostalgia da menina doce e alegre que desapareceu atrás de tintura de cabelo rosa e delineador. A sensação de ser incompreendido, de que ninguém entende tudo o que você está passando, porque seu mundo parece se quebrar em pedaços a cada nova decepção.
O tempo parece estar se esgotando e não passando rápido o suficiente. É um conceito estranho, você tem muita pressa de crescer, de sair do seu Sacramento (ou colocar o nome da sua cidade aqui) e, ao mesmo tempo, você já se sente adulto demais para exigir ser levado a serio.
Quando você sair de lá, chegar na sua nova cidade e passar da fase de mentir sobre sua origem, vai perceber que o primeiro erro foi esse: leve-se muito a sério.