A luz dourada da Costa Blanca.
"Às vezes há tanta luz em Benidorm que não deixa ver", diz Alex (Sarita Choudhury) uma Pedro (Timothy Spall) dentro Neva em Benidorm, o último filme de Isabel Coixett (Lançamento nos cinemas em 11 de dezembro). E talvez isso tenha acontecido conosco por tantos anos. Tanta luz, refletida nas imponentes fachadas de seus arranha-céus, não nos deixou ver o que a cidade de Alicante escondia nos seus cantos, entre as suas baías, esse universo de contrastes e contradições em que as comunidades espanhola e internacional mal se tocam.
Esse universo é aquele que Coixet descobriu há alguns anos quando apareceu pela primeira vez em Benidorm, para fazer um documentário sobre a degradação da costa e ficou fascinada pelas personagens que o povoaram: aposentados à vontade com sua nova escolha de casa, imitadores de Elvis e vedettes de cabaré burlesco como protagonista, uma mulher madura muito sexy, muito viva.
O horizonte de Benidorm.
E em toda essa mistura entrou Sylvia Plath e a viagem de lua de mel do poeta em 1956, com Ted Hughes. As cinco semanas que passaram lá, na casa de um pescador com vista para a praia, mesmo lugar onde Coixet coloca um de seus personagens: o curador que interpreta Carmem Machi, obcecado por Plath e por aquela visão da poetisa de biquíni que fala de outro Benidorm.
Nesse cenário, a diretora coloca sua protagonista, Peter Riordan, um inglês metódico, maníaco e apático, que vive uma vida rotineira, sempre trabalhando no mesmo banco, tomando café da manhã, janta igual, com um único cartão postal de Benidorm na geladeira que o lembra de outro mundo em que vive seu irmão, que há muito não vê . A única coisa que parece mover o sangue de Peter é o clima, olhar e fotografar o céu todos os dias.
"O tempo é uma forma de sentir que algo está acontecendo e se nada está acontecendo, há sempre uma promessa de que algo vai acontecer" É a sua crença mais forte. Assim como o clima, a vida pode mudar em poucos minutos. É o que lhe acontece quando chega a Benidorm e descobre que o seu irmão desapareceu, que tinha um clube burlesco, que não sabia nada dele. Acompanhado por Alex, seu guia para Benidorm e uma nova vida, ele tenta seguir os últimos passos de seu irmão.
Peter Riordan, um estranho em Benidorm.
Do terraço da casa do irmão, no Torre Lugano ver toda a cidade, aquela com a maior densidade de arranha-céus por habitante, que Horizonte que agora é admirado e invejado, que muitos visitantes agora sentem falta neste ano de covid. À noite, Peter desce das alturas para aquela rua de Benidorm cheia de despedidas malucas de compatriotas ingleses, tiros grátis e luzes de néon ofuscantes.
Novamente para o dia com Alex descubra um Benidorm gastronômico. No Restaurante Llum del Mar, no D-Vora Gastrobar: polvo, camarão vermelho de Dénia, anchovas com tomate, arroz preto…
Benidorm, em pleno sol.
Nada é impossível em Benidorm. Se, como Pedro bem sabe, numa cidade atraente pelo seu clima ameno, pode até nevar, todo o resto também é possível. Mesmo encontrando o amor e o desejo de viver, uma segunda chance de viver tudo isso, de descobrir tudo o que eu nem sabia que existia. Essa é a epifania que o protagonista tem no topo do parede vermelha, construído por Ricardo Bofill em 1973, no qual Coixet também teve outra revelação: com aquelas cores da Costa Blanca, o filme não poderia ser em preto e branco como inicialmente imaginado. O seu neonoir precisava da cor e luz de Benidorm, aqueles que até agora nos deslumbraram, aqueles que cegaram Peter por um momento para depois abrir um novo céu, completamente claro.
Sarita Choudhury e Timothy Spall.