Cuzco: 48 horas no umbigo do mundo

Anonim

Cuzco 48 horas no umbigo do mundo

Dois dias no umbigo do mundo

Você finalmente vai realizar um dos seus sonhos: você está prestes a desembarcar em **Cuzco, a capital do antigo Império Inca** e está morrendo de vontade de comer a cidade.

No entanto, o seu planeamento permite-lhe apenas desfrutar das suas ruas calcetadas, das suas mulheres em trajes regionais multicoloridos, do seu rico valor patrimonial e das suas bancas de rua durante algumas horas: 48, para ser exato.

Você dá uma olhada no mapa, seu guia, seu caderno cheio de anotações sobre o que ver e onde ir nesta mítica cidade do Peru, mas a overdose de informações o paralisa.

Vistas de Cuzco do templo de Sacsayhuaman.

Vistas de Cuzco do templo de Sacsayhuaman.

Por onde começar? O que não perder? Como aproveitar e espremer cada minuto que passa neste cantinho emocionante do mundo? Não entre em pânico. Sobre tudo porque Se Cuzco tem algo, é que merece que você entre com paciência e calma.

Portanto, tome nota: iniciamos uma viagem, lenta mas segura, pelo umbigo do mundo.

DIA UM

8:30 da manhã. Nós nos levantamos em nosso charmoso hotel no centro de Cuzco, aos pés do modesto bairro de San Blas e apressamos o café da manhã à base de torradas, sucos diversos e ovos em todas as suas formas e texturas.

O lugar escolhido foi **La casa de Mayte**, um antigo prédio colonial colorido em branco e azul onde você começa a sentir a alma de Cuzco.

Depois de nos certificarmos de que temos as reservas necessárias para aguentar o que nos resta, vamos às ruas. O sol bate forte, embora o frio seja perceptível. Ao fim e ao cabo, estamos a 3.400 metros de altura.

Pátio interno da La Casa de Mayte, um hotel com vista para os telhados de Cuzco.

Pátio interno da La Casa de Mayte, um hotel com vista para os telhados de Cuzco.

9:30 da manhã. Descemos a estrada em direção à Plaza de Armas de Cuzco, que a esta hora já começa a fervilhar de atividade. Os turistas andam com suas câmeras penduradas no pescoço. Os moradores conversam animadamente encostados nos bancos ao lado da mítica Fuente del Inca que decora majestosamente o centro da cidade.

Vamos parar por um segundo! Vale a pena dar uma boa olhada em onde estamos: possivelmente é o espaço público mais incrível de toda a América do Sul. De um dos lados, a Catedral de Cuzco, um dos mais importantes exemplos da arquitetura colonial da cidade.

Para completar a nossa visita, recebemos um audioguia que nos conta, entre muitas outras curiosidades, que a catedral demorou quase um século a ser construída e que contém no seu interior uma amostra bastante exemplar de Arte de Cuzco, famosa por fundir o estilo pictórico europeu mais religioso com as cores e a iconografia dos artistas indígenas.

O exemplo mais claro? Encontramo-lo diante de uma de suas pinturas mais famosas, A Última Ceia, do artista quíchua Marcos Zapata. Claro, no centro da mesa, como prato principal do banquete, um porquinho-da-índia assado. Que outra iguaria poderia ser se não?

Depois de visitar cada uma das suas galerias e antes de continuar o percurso, prestamos nossa homenagem ao Inca Garcilaso de la Vega na igreja de Triunfo –comunicava-se com a catedral em seu interior, assim como a igreja de Jesús María–. Seus restos mortais repousam aqui desde que o rei emérito Juan Carlos I decidiu devolvê-los à cidade onde nasceu em 1978.

Os portais da Plaza de Armas lembram o passado colonial de alguns edifícios que preservam seus alicerces...

Os portais da Plaza de Armas lembram o passado colonial de alguns edifícios que preservam as muralhas incas em suas fundações.

11h30 Entre uma coisa e outra, é meio-dia. E rapaz, estamos com fome! Paramos para tomar uma bebida em um dos cafés mais fofos da região. Subimos as escadas para La Calle del Medio, nas alturas das arcadas de origem colonial que dominam a Plaza de Armas.

Procuramos um buraquinho nas varandas estreitas e nos refrescamos com uma limonada. Estamos tão maravilhados que apontamos as vistas como uma verdadeira obrigação.

12h30 Caminhamos por algumas das ruas de paralelepípedos do centro de Cuzco, deixando-nos levar pelo seu encanto. O mesmo encontramos mulheres indígenas vestidas com roupas das cores mais vivas (com lhamas domesticadas para tirar uma foto por cinco soles), que com lojas de equipamentos de montanha de última geração.

Não importa: tudo faz parte da cidade que Cuzco se tornou hoje. Uma mistura de cultura mais tradicional e empresarial de produtos do século 21.

Chegou a hora de continuar aprendendo sobre sua história, pois estamos na cidade mais antiga do continente americano – habitada ininterruptamente – por um motivo.

Em Qorikancha descobrimos as ruínas incas do que foi o templo mais rico de todo o império, construído por volta de 1.200 depois de Cristo. Quase nada. Como dizem, o as paredes do templo já foram cobertas por 700 folhas de ouro maciço pesando dois quilos cada. Todo o material valioso que existia no interior foi saqueado com a chegada dos colonizadores. Com o tempo, seus restos mortais tornaram-se parte das fundações da igreja e do convento de Santo Domingo.

Vista da torre da igreja de Santo Domingo em Cuzco.

Vista da torre da igreja de Santo Domingo, em Cuzco.

3:00 da tarde. E agora, sim, é hora de mergulhar na autêntica gastronomia peruana, aquela cheia de nomes e sabores que não ouvimos em nossas vidas, mas que fazem nosso paladar experimentar uma felicidade infinita.

Para isso, vamos a um lugar modesto na Rua Arequipa, 248. No Restaurante Egos temos de partilhar mesa e não há opção de pedir carta: o menu (normalmente composto por uma sopa, um prato principal, uma bebida e uma sobremesa) é o que é e não há mais nada. Os pratos são tão abundantes que poderiam nos satisfazer o suficiente para aguentar uma semana se necessário... ou bem, pelo menos até a noite.

17:00. Refazemos nossos passos e voltamos à Plaza del Regocijo, ao lado da Plaza de Armas.

Lá eles nos pegam para nos levar em um microônibus para os arredores de Cuzco. A razão? Vamos tocar as estrelas com os dedos. Bem, talvez isso seja um pouco exagerado, mas sim: fomos ao Planetário Cusco para viver uma autêntica experiência cósmica.

Anos atrás, uma iniciativa familiar levou à criação deste pequeno projeto para compartilhar a paixão de seus fundadores pela astronomia com viajantes de todo o mundo. Com base nas crenças de seus ancestrais incas, por duas horas é hora de aprender sobre as constelações deste hemisfério do planeta (lembre-se que estamos no sul!), sobre lendas e histórias incríveis.

Mas a melhor parte ainda está por vir. Para terminar saímos para o jardim, onde na escuridão total, e graças a equipamentos profissionais e telescópios, contemplamos as estrelas e planetas como nunca antes.

Em Qorikancha, uma pintura do artista cusquenho Miguel Araoz Cartagena mostra a Via Láctea sobre Cusco.

Em Qorikancha, uma pintura do artista cusquenho Miguel Araoz Cartagena mostra a Via Láctea sobre Cusco.

20:00. Após esta interessante excursão, voltamos a Cuzco. Passamos novamente pela Plaza de Armas para apreciá-la, desta vez, à noite. Embora seja o mesmo local por onde caminhámos de manhã, agora, iluminado, parecer-nos-á completamente diferente.

Apesar de estarmos cansados da intensidade do dia, paramos em um clássico Cusco. No El Museo del Pisco é hora de saborear um de seus míticos coquetéis ao som de música ao vivo. Para acompanhar, algumas tapas do seu extenso menu (que ainda temos almoço muito presente).

Entre piscos em suas variantes muito diferentes a noite vai embora. E amanhã é hora de continuar descobrindo Cuzco!

DIA DOIS

9:30 da manhã. Ainda nos recuperando dos piscos noturnos, saímos do hotel sem experimentar o café da manhã. Hoje queremos começar o dia no Mercado Central de San Pedro, um daqueles lugares onde você pode contemplar a essência autêntica da cidade.

Buscamos a barraca de sucos que mais nos convence entre os apelos de seus proprietários: todos querem nos tornar seus clientes. Sentamos em um de seus bancos e pedimos a mistura de frutas mais estranha que podemos pensar: É o mesmo, todas as combinações são possíveis aqui.

Sacos de milho, cereais e feijão no Mercado Central de San Pedro.

Sacos de milho, cereais e feijão no Mercado Central de San Pedro.

Andamos pelos corredores entre barracas de batatas **(existem até 3.000 variedades diferentes no Peru!)**, peixe, pão em forma de tigela ou pomadas contra todos os tipos de males... As frutas e legumes cheiram como em nenhum outro lugar e seu intenso as cores nos parecem pura fantasia.

11h30 Continuamos caminhando por algumas das principais ruas do centro. Empresas que exibem roupas de alpaca estilosas – e caras – em suas vitrines vêm uma após a outra. Às vezes, eles são combinados com casas de câmbio ou agências de turismo onde você pode comprar pacotes para explorar o Vale Sagrado ou o próprio Machu Picchu.

Passamos pelo convento de Santa Clara e percorremos o seu belíssimo arco. Aos domingos, a Plaza de San Francisco costuma estar cheia de atmosfera. Os camponeses da região se reúnem aqui para conversar em quíchua, comer, brincar e se divertir em barracas improvisadas de gastronomia e lazer.

O Arco de Santa Clara em Cuzco.

O Arco de Santa Clara, em Cuzco.

Descemos a Calle del Triunfo e encontramos um grupo de pessoas em volta de um muro. Este é o antigo palácio do Inca Roca, que hoje abriga o Museu de Arte Sacra, e o que causa tanta expectativa não é outro senão 'a pedra dos 12 ângulos', considerada Patrimônio Cultural da Nação do Peru pela sua singularidade, ótimo acabamento e bela perfeição.

14h00 O rugido das tripas nos avisa que é hora de comer. E estamos com sorte! Estamos precisamente ao lado de Cicciolina, um restaurante elegante no segundo andar de um antigo prédio colonial onde você pode comer tapas em sua área de bar ou sente-se em sua sala de jantar para desfrutar de uma ótima refeição. A cozinha aberta permite-nos impregnar-nos de todos aqueles cheiros que são apenas uma antevisão do que está por vir.

17:00. É hora de entrar em um dos bairros mais pitorescos e autênticos de Cuzco. São Brás, Com as suas encostas íngremes, as suas portas azuis e as suas casas de arquitetura clássica, recebe-nos desde a parte mais baixa da encosta.

O bairro dos artistas por excelência está cheio de galerias e lojas de artesanato onde certamente gastaremos mais do que pensamos. O ideal é se perder em seus becos, subir e descer escadas (colocando à prova nossos pulmões e nossa adaptação à altura, diga-se) e vagar sem rumo.

Passámos a tarde a divertir-nos com a vida nesta zona da cidade. Sem trânsito e sem barulho além do latido de um cachorro ou da conversa entre dois vizinhos, a essência de grande parte de Cuzco se encontra aqui.

Declive acentuado no bairro de San Blas o do artesanato de Cusco.

Encosta íngreme no bairro de San Blas, o do artesanato de Cusco.

Na Plaza de San Blas paramos para visitar sua igreja, uma simples construção de adobe que é uma delícia. Do mirante de San Blas, com toda a cidade espalhada aos nossos pés, desfrutamos de um dos mais belos pores do sol já vistos.

20:30. Continuamos em San Blas que, apesar de ser um bairro minúsculo, percorre um longo caminho. Entramos no Km 0, um dos antros de jogo que se firmaram como ponto de encontro de cariocas e turistas, e pedimos uma cerveja Cusqueña para começar a trabalhar. O resto vem por si só. A música ao vivo é a companhia perfeita para petiscar e para os piscos que vêm depois. O tempo passa e estamos tão à vontade que esquecemos o relógio.

É a nossa última noite e não queremos que acabe. Ao sair, e antes de regressar ao hotel, um último mimo. Caminhamos tranquilamente por parte do centro da cidade, na solidão da noite, e gravamos o carimbo em nossa mente. Será uma das lembranças mais bonitas que levaremos conosco da bela Cuzco.

Ao cair da noite, a Plaza de Armas é um lugar idílico para passear.

Ao cair da noite, a Plaza de Armas é um lugar idílico para passear.

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