Os melhores livros que lemos este ano

Anonim

A relação com a leitura é algo muito pessoal. Há leitores de todos os tipos, os que devoram livros que se dedicam a eles dia e noite e os que preferem apreciá-los pouco a pouco, os que preferem sagas de muitas páginas e muitos volumes e que raramente vão além de um romance curto.

Na Condé Nast Traveler adoramos ler, e com a feira do Livro ao virar da esquina, enfrentamos a difícil tarefa de escolher um livro favorito entre aqueles de nós que leram um para o outro este ano, e também aproveitamos a oportunidade para refletir sobre o que a leitura significa para nós.

Capa de Os filmes que não vi com meu pai de Alberto Moreno com letras vermelhas sobre fundo marrom

Os filmes que não vi com meu pai, de Alberto Moreno.

OS FILMES QUE NÃO VI COM MEU PAI, ALBERTO MORENO (CÍRCULO DE GIZ)

Sinopse : O cinema é a desculpa, o Hitchcockian Macguffin, que dá sentido a tudo o que o título sugere. Nosso colega Alberto Moreno, chefe de conteúdo da Vanity Fair Espanha, coloca sua cinefilia voraz a serviço de uma catarse íntima que, querendo ou não, acaba sendo não apenas um exercício autobiográfico, o que é bom, mas também a estupenda retrato de uma geração, já não sabemos se Y, milenar ou o quê, sempre nas costas do desencanto, sempre hesitando entre alcançar a glória efémera ou entregar-se a um carpe diem infinitamente menos ambicioso.

“Tenho um caderno com seis mil filmes anotados, todos os que vi até os quarenta anos. Fui jornalista especializado em cinema, mas este livro não é –não quer ser– um livro de cinema, mas sim o retrato de uma ausência, a de um pai que partiu cedo demais e não soube ou não pôde transmitir-me muitas das paixões que ele fez. Gostaria de transferir meu filho para ele”. As palavras de Alberto, por isso à pergunta de por que este livro, descrevem uma vida, sua, e uma tragédia, a morte de seu pai. Mas talvez ele não saiba (ou muito bem) que essa viagem da vida ao cinema, ao cinema como ardil perfeito, é percorrida por parte de uma geração que também ficou acordada até tarde com José Luis Garci, que também escreveu o filmes que tinha visto em cadernos, mas as ladeiras, que devoravam Bergman o tempo todo – “é assim que se tira antes”, o experiente recomendava – e que perderam a virgindade entre os tombos de Gregg Araki, as bobagens de Vincent Gallo e as quatro estações de Rohmer. Uma geração, a última já, que soube dar o triplo salto mortal das rabanadas de Robert Benton ao creme de Paul Thomas Anderson e hoje, com alguns cabelos grisalhos já no pente, se recusa a chamar qualquer coisa de cachorros de palha. Eu não disse retrato geracional porque isso já foi dito quando Mañas. Mas nos filmes que não vi com meu pai há muito retrato e muita geração. Tomara que caia nas mãos de muitos centenários. —David Moralejo, chefe de conteúdo, Condé Nast Traveler Espanha.

Capa de Second House de Rachel Cusk, uma montagem em preto e branco que combina plantas e elementos decorativos em um...

Segunda Casa, de Rachel Cusk.

SEGUNDA CASA, RACHEL CUSK (ASTERÓIDES LIVROS)

Sinopse : Uma mulher convida um pintor de prestígio para passar um tempo com ela e sua família em uma casa de hóspedes que acabaram de construir ao lado do pântano remoto onde moram, esperando que o olhar da artista ilumine sua própria existência. A visita não sairá como o esperado, revelando ao protagonista (e ao leitor) que a arte pode ser salvadora ou destrutiva.

No ano passado li 'Dispossession', obra autobiográfica da mesma autora em que relata a dor e a perplexidade da separação conjugal. Sua linguagem e originalidade me cativaram, embora não me conectasse com o espírito do livro, principalmente em sua desconcertante segunda metade. No entanto, vendo que algumas pessoas ao meu redor recomendavam 'Segunda casa' nas redes sociais, minha curiosidade foi aguçada e consegui. Não consegui largar por dois ou três dias, quando terminei com uma forte sensação de ter lido algo muito importante e valioso. A história de Cusk não é projetada para fazer o leitor se sentir melhor ou reconciliá-lo com aspectos pouco lisonjeiros de sua existência, mas, em vez disso, confronta-o com realidades não tão frequentemente refletidas na cultura popular. Doloroso, tremendo e fascinante. —Clara Laguna, editora da Condé Nast Traveler Spain.

'O Livro Negro das Horas' Eva García Senz de Urturi

'O livro negro das horas', Eva García Sáenz de Urturi.

O LIVRO NEGRO DE HORAS, EVA Gª SÁENZ DE URTURI (PLANETA)

Sinopse: Alguém que está morto há quarenta anos não pode ser sequestrado e certamente não pode sangrar. Vitória, 2022. O ex-inspetor Unai López de Ayala — aliás Kraken — recebe uma ligação anônima que vai mudar o que ele acha que sabe sobre o passado de sua família: ele tem uma semana para encontrar o lendário Livro Negro de Horas, uma joia bibliográfica exclusiva, se não, sua mãe, que descansa no cemitério há décadas, morrerá.

A Trilogia da Cidade Branca manteve a mim e a outros dois milhões de leitores acordados à noite, mas também me deu uma das melhores histórias que já li. Por isso, quando Eva García Sáenz de Urturi publicou Aquitania, não hesitei um momento: entrinchei-me entre suas páginas e não o larguei até chegar ao fim. O retorno de Sáenz de Urturi em 2022, o retorno de Kraken, nos reintroduz na história do inspetor –desculpe Unai, sei que você não gosta de ser chamado assim– e em um caso que desta vez o afeta pessoalmente. Madrid e Vitória são os cenários deste trabalho desenvolvido em duas linhas do tempo e duas vozes narrativas que nos introduz num universo novo e complexo: o bibliófilo. Incunábulos, fac-símiles, livros de horas, códices, manuscritos... todos esses preciosos tesouros desfilam diante dos olhos do leitor em um sugestivo passeio literário com paradas na Cuesta de Moyano, no Bairro de las Letras, na livraria Miguel Miranda ou na Instituto Cervantes. Unai López de Ayala não deve apenas traçar o perfil criminal mais importante de sua vida, mas também considerar que sua mãe – até agora morta – pode ser a melhor falsificadora de livros antigos da história. —María Casbas, editora da Condé Nast Traveler Spain.

Capa de Set Fire to the Night de Myriam M. Lejardi com uma caveira de neon vermelho em uma parede de tijolos

Ateie fogo à noite, Myriam M. Lejardi.

DEIXE A NOITE EM FOGO, MYRIAM M. LEJARDI (MOINHO)

Sinopse : Vail viveu, antes de seu 20º aniversário, mais vidas do que seu quinhão. Ironicamente, o último veio a ele depois que morreu, quando acordou com o coração parado, uma sede terrível de sangue e tendo que passar pela pior experiência: voltar à escolaridade obrigatória. Agora ele tem que abandoná-la novamente, fugir das autoridades do submundo das criaturas que vivem ao nosso lado sem nosso conhecimento, e tudo porque seu melhor amigo é um mentiroso incapaz de não criar o caos em seu caminho. Se teria sido difícil sobreviver à elite do mundo sobrenatural, o que acontecerá agora que ele conheceu Gabriela, forte, corajosa, irritantemente humana e a única pessoa que desafiou o vampiro como nunca antes?

Sempre adorei histórias sobrenaturais: a possibilidade de mundos mágicos e estranhos à mão, pessoas comuns (como eu) encontrando-os quase por acaso. Crescendo, não parei de buscar aquele sentimento de admiração, mas também aquele componente humano de personagens imperfeitos, de moralidade cinzenta, de dúvidas e erros com os quais me identificava. O monstro feito humano, o monstro feito humano. Depois de muito tempo de bloqueio do leitor por causa da pandemia, Incendiar a Noite conseguiu me absorver como um romance há muito não o fazia: com seus personagens imperfeitos, quebrados e mentirosos cujas motivações são um eco daquela frase épica de Game of Thrones: "as coisas que faço por amor. Uma história de vampiros, lobisomens e outras criaturas cheias de intrigas, sentimentos, atração e que colocam a moral dos protagonistas à prova repetidas vezes, reviravoltas imprevisíveis e uma viagem ao passado e aos segredos mais bem guardados dos personagens. Se somarmos a isso o componente LGBT e a visão de que existem tantos tipos de amor quanto pessoas em nossas vidas, Lejardi nos oferece uma cativante história de aventura, conspiração, magia e amor em todas as suas formas que nos faz sorrir, chorar e se emocionar E, mais uma vez, apostando no time perdedor para vencer, apesar de tudo que tem contra eles. —Virginia Buedo, editora de adaptação, Condé Nast Traveler Spain.

Capa de End of Season de Ignacio Martínez de Pisón com uma fotografia de duas pessoas abraçadas ao lado de um carro vermelho

Fim de temporada, de Ignacio Martínez de Pisón.

FIM DA TEMPORADA, IGNACIO MARTÍNEZ DE PISON (SEIX BARRAL)

A vida são decisões, dúvidas e segredos. Também vínculos e experiências que fazem sentir a felicidade mais plena ou, quando tudo dá errado, o pior dos demônios. A tragédia é mastigada desde o momento em que abre a primeira página de Fim de Temporada, um romance onde a psique domina, mas o coração domina. Juan e Rosa, um jovem casal da Extremadura, viajam de carro para Portugal para que ela possa fazer um aborto clandestino. Estamos em 1977. Um acidente tirará sua vida e o passado dela. Vinte anos depois, Rosa e seu filho, Iván, administram um pequeno acampamento em Tarragona. Sem ter mais um do outro, uma vida inventada transcorreu sem surpresas. Mas o destino é caprichoso e as mentiras, embora piedosas, sempre têm pernas curtas. Emotivos ao extremo e com uma clarividência psicológica que assusta, seus protagonistas são especialmente mundanos. Na verdade, poderia muito bem ser qualquer um de nós. Fator que, sem dúvida, faz da história de Ignacio Martínez de Pisón (Zaragoza, 1960) uma deliciosa aventura para se refletir de alguma forma. Porque quem perdoa uma mentira? Quem não se sente traído quando descobre que sua vida foi uma farsa? Quem não é capaz de nada para proteger o que mais ama? Os sentimentos tornam-se um fio condutor nesta história onde ele simpatiza com todas as partes e onde a deriva de suas decisões leva a reflexões e introspecções imediatas. Porque somos todos laços, emoções e segredos. —Cynthia Martín, editora da Condé Nast Traveler Spain.

Capa de On the Disappearing Coast de Francisco Serrano

Na costa desaparecida, Francisco Serrano.

NA COSTA DESAPARECIDA, FRANCISCO SERRANO (EPISKAIA)

Sinopse : Território do Arizona, final do século XIX. Lar de ladrões, exploradores, caçadores de recompensas, tropeiros e garimpeiros. Clara Hooper, viúva recente do xerife, especialista em treinamento de cavalos, está prestes a descobrir que não é fácil deixar o passado para trás e que seu novo clã pode não oferecer proteção suficiente contra a ira daquele que ela deixou para trás.

Eu sou uma daquelas pessoas que lê sem parar quando criança e teve uma personalidade construída em torno de ser um ávido leitor, então a vida adulta, com seu tempo mais limitado para sentar para ler sem estresse e suas eternas distrações, tirou um passatempo importante. Eu consegui me virar com romances curtos, mas finalmente terminar um livro de mais de 400 páginas no mês passado foi uma verdadeira conquista. Mas é que a obra merece: um western surpreendentemente adaptado ao seu tempo, com ação vertiginosa e ritmo perfeito, narrado em coro por personagens tão diferentes entre si quanto fascinantes. Apresenta um mundo cruel e implacável, cheio de traição e morte, mas com a dose certa de realidade para pegar sem sobrecarregar. Ele combina uma profundidade incrível com uma forma de narrar tão agradável e divertida que parece terminar em um suspiro e deixa você querendo mais a partir do momento em que vira a última página. —Eva Duncan, editora de adaptação, Condé Nast Traveler Spain.

Capa de A Maldição da Residência Hill

A Maldição da Residência Hill, Shirley Jackson.

A MALDIÇÃO DA CASA DA COLINA, SHIRLEY JACKSON (MINÚSCULAS)

Sinopse : um investigador do sobrenatural; uma jovem que viveu dedicada aos cuidados de sua mãe; um artista boêmio; e o herdeiro da propriedade, encontram-se na remota mansão de Hill House com a intenção de buscar evidências científicas da existência do paranormal. Cada um dos personagens começará a experimentar estranhos eventos sobrenaturais nos quais imaginação e realidade se misturam e que acabarão tendo consequências terríveis para todos eles.

As vezes que eu mais lia eram quando eu estava com meus avós em uma vila remota no País de Gales e não tinha mais nada para fazer, então os livros se tornaram uma parte vital da viagem para mim. Eles também são uma maneira de escapar, e muitas vezes leio ficção em tempos de crise ou ansiedade. Adoro me perder no microcosmo de uma história, em seus personagens, e lembro especialmente com carinho da sensação de devorar a História Secreta de Donna Tartt, em um frio de março em Nova York quando estava desempregada e sem dinheiro. Confortou-me muito, perdi-me totalmente nas suas páginas durante uma semana inteira, e agora costumo procurar livros que reproduzam esse sentimento. Nem sempre é fácil, mas ultimamente tenho encontrado em um lugar inesperado: nos romances de terror. Estou lendo Shirley Jackson, e acho que o que me atrai é que o terror do livro é muito diferente do horror do dia-a-dia que vejo da minha janela. The Haunting of Hill House, com seus personagens complexos e fascinantes, me ajudou a apreciar todo um gênero de literatura que eu mal conhecia. —Lale Arikoglu, Diretor de Artigos, Condé Nast Traveler.

Capa da quinta temporada

A Quinta Estação, N. K. Jemisin.

A QUINTA ESTAÇÃO, N. K. JEMISIN (NOVA)

Sinopse : na Quietude, um continente quebrado onde a catástrofe faz parte da vida cotidiana, as quatro estações se sucedem até que a quinta chega para acabar com tudo. Os céus estão escuros de cinzas, as águas estão envenenadas, o ar fica irrespirável, pessoas que não têm comunidade morrem. E o crack que acaba de dividir o mundo em dois parece anunciar o fim do mundo. Mas uma mãe acaba de perder sua família e está disposta a cruzar o mundo para salvar o que resta dela.

Eles não me deixavam assistir muita TV quando eu era pequena, então eu lia sem parar. Lembro-me de ler uma série de dez livros de uma só vez e depois recomeçar. Era fascinante como eu encontrava novidades nos mesmos livros repetidas vezes, como me deixava levar pelas aventuras por horas e horas. Eu até tive que aprender a diminuir minha velocidade de leitura mais tarde para realmente aproveitar as histórias. Agora continuo amando séries longas, são uma forma de desconectar, principalmente quando tratam de coisas que não existem nem existirão. Geralmente procuro fantasia e ficção científica e entro em outros mundos com livros como o ciclo da Terra Mar de Ursula K. Le Guin. A quinta temporada e, em geral, toda a trilogia de The Fragmented Earth eu amo porque posso acompanhar a vida das pessoas em um mundo que poderia ser nosso, mas ao mesmo tempo não é, de uma forma que simpatizo, mas posso me retirar a qualquer momento. É um livro longo, mas você tem que prestar muita atenção, e essa coisa de ter que aprender como um mundo inteiro funciona de alguma forma me relaxa e me ajuda a esquecer o meu. —Meredith Carey, editora de reservas de viagens, Condé Nast Traveler.

Alguns dos livros mencionados são apresentados no episódio Os Melhores Livros que Lemos Recentemente do podcast Women Who Travel. Está disponível no Apple Podcasts e Spotify.

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