El Bou El Mogdad: pássaros, plantações e relaxe em um cruzeiro no rio Senegal

Anonim

Aves da plantação de El Bou El Mogdad e relaxamento em um cruzeiro no rio Senegal

El Bou El Mogdad: pássaros, plantações e relaxe em um cruzeiro no rio Senegal

Tudo começou com a teimosia de alguém que muitos classificam como "personagem" ou até "louco". Georges Consol, cidadão de nacionalidade francesa mas de sangue multinacional, resgatou um cargueiro para convertê-lo em navio de cruzeiro.

Ele levou uma vida de aventura e risco. Alguns o apimentam com lendas de contrabando e assuntos mais sombrios. De qualquer forma, esse empresário conseguiu limpar o que costumava ser um barco holandês que funcionava como uma frota de correio senegalesa e montar um negócio na próspera cidade de Saint Louis. A partir disso algumas décadas atrás.

Agora na história do Bou el Mogdad imprevistos, estágios de esplendor e períodos de letargia se misturam.

Bou El Mogdad

El Bou El Mogdad iluminado sob o céu africano

Vamos para aquele episódio fundamental. O Bou el Mogdad foi, como já dissemos, uma construção holandesa que fazia viagens ao longo do rio Senegal. Era o principal meio de transporte de água, matérias-primas ou cartas quando ainda não havia uma boa ligação rodoviária ou ferroviária. De 1950 a 1970 deslocou-se em diferentes pontos desta fronteira com a Mauritânia, chegando mesmo a atravessar a fronteira para Kayes, no Mali.

Seu declínio progressivo na atividade o levou ao ostracismo. E foi quando Georges Consol comprou-o, renovou-o e deu-lhe uma segunda oportunidade. Até então, São Luís (atualmente com cerca de 400.000 habitantes em toda a área metropolitana) ainda gozava do brilho que os anos de colônia francesa e capital da África Ocidental lhe deram.

Uma multidão inteira de pescadores, autoridades e curiosos se aglomerava em torno de seu porto. A proximidade da fronteira e a saída para o Oceano Atlântico conferem-lhe um lugar privilegiado. E Georges Consol quis aproveitar esta situação para oferecer uma viagem de luxo por sete dias.

A iniciativa funcionou até o final da década de 1990, quando o turismo começou a declinar. Dakar capitalizou em serviços e opções de entretenimento ou lazer. A construção de uma pequena barragem em Diama, uma das passagens de fronteira, também dificultou a viagem.** E o Bou el Mogdad, símbolo de São Luís e projeto de caráter inquieto, permaneceu ancorado, inerte.**

Todos a bordo

Bou El Mogdad

Até 2005. Um grupo de empresários – liderados pelo belga Jean Jaques Bancal – o resgatou de um possível esquecimento. Montaram um cais a poucos metros da Ponte Faidherde (ícone da cidade, desenhada por Louis Faidherbe e inaugurada em 1897) e renovaram-na para lhe devolver o brilho que merecia.

Quinze anos depois o Bou el Mogdad navega cerca de oito meses por ano, prometendo sete dias de horizontes livres de obstruções visuais, de observação da fauna e flora locais, de visitas a cidades muradas ou, simplesmente, horas de descanso ao sol.

“Queremos que a experiência seja incomparável”, resume o proprietário da Sahel Découverte Bassari, sua agência, em uma rua principal de Saint Louis. Dependendo do tipo de quarto – são 25, entre singles ou duplos, com diversas comodidades –, os preços variam entre 790 e 1.490 euros, com tudo incluído.

Antes de embarcar, porém, o Bou el Mogdad move-se sem passageiros para uma eclusa na referida barragem de Diama. A expectativa está associada a uma foto em preto e branco: grupos de vizinhos de todas as idades debruçam-se sobre o local, aguardando a chegada do barco. Uma vez superada essa lacuna – com um conjunto de portões tão rudimentares quanto surpreendentes – fica aguardando a chegada dos ocupantes, alguns dias depois.

Eles percorrem a distância em uma van, depois de um passeio pelas principais atrações da cidade. Desde o início, a tripulação, composta por uma dezena de pessoas, atende com requintada gentileza e se presta a diferentes tarefas: o mesmo serve um cocktail num concerto de boas-vindas que bate e mexe as ancas com a percussão.

Bou El Mogdad

"Queremos que a experiência seja incomparável"

O pôr do sol se disfarça de céu moscatel e transborda a savana. O convés se enche de viajantes, conversando despreocupadamente sobre o bar aberto. O guia apresenta o plano para cada dia. A rotina consistirá – com ligeiras variações – em tomar o pequeno-almoço entre as oito e as dez, desfrutar de algumas horas de descanso, almoço, uma excursão à tarde e regressar ao buffet com o epílogo no topo.

O constrangimento está estampado no corpo desde cedo. Dependendo do mês (o mais quente, de julho a outubro, não há serviço), as temperaturas chegam a 45 graus. Adicionando a secura do ambiente. Por isso, a piscina torna-se uma das opções preferidas dos passageiros, que folheiam livros ou se brindam em esteiras estendidas sobre o metal.

Bou El Mogdad

o silêncio da natureza

Uma primeira seção consiste em chegar ao Parque Nacional Djoudj. Foi criada em 1971 e é a terceira reserva ornitológica do mundo (Património Mundial pela UNESCO em 1980). O acesso é feito de canoa por um dos caminhos fluviais até uma ilha onde milhares de pelicanos emitem um barulho ensurdecedor. No trajeto você também pode ver exemplares de flamingos ou garças como uma pequena amostra dos três milhões de aves que migram ao longo de seus 160 quilômetros quadrados.

A rota continua por campos de arroz até Richard Toll. Este enclave foi um centro açucareiro e ainda preserva as mansões dos latifundiários, como o chateau Baron Roger, um edifício de meados do século passado que se destaca entre os 100 quilômetros quadrados de plantações do Companhia de Açúcar Senegalesa. Embora agora tudo esteja girando em torno de uma rua empoeirada paralela ao rio, esta aldeia de 70.000 habitantes explica parte da história do norte do Senegal: colonização, agricultura e vassalagem.

As saídas do navio se completam nos dias seguintes com três novas escalas. O primeiro é Dagana, cidade fundada no século XIV que ainda preserva um forte e construções coloniais. Naquela que foi a capital do reino Walo e um centro de comércio de borracha, você pode saborear o prato típico de arroz com peixe (do mangue mais próximo). Uma tinturaria, um mercado e a escola também são visitados.

Outra fuga é Thiangaye. Esta pequena cidade ribeirinha oferece a possibilidade de caminhe por duas horas pela floresta de Goumel e veja as cabanas construídas pelas mulheres 'peul' (um dos grupos étnicos majoritários nesta parte do Senegal). A marcha em direção ao coração do Sahel volta e a vegetação muda.

Do mato ralo passa a um tapete verde e a uma maior variedade de espécies. Também são considerados aldeias 'toucouleur', outro dos grupos nativos. Algumas de suas casas de adobe foram construídas no século XIII.

Bou El Mogdad

O Bou El Mogdad na cidade de Saint Louis

E termina em Podor, capital no século XI do reino Tekrour. A sua fortaleza e ruas sugerem um passado de comércio de goma arábica, marfim ou madeira. Os franceses se estabeleceram aqui em 1743 e construíram o forte em 1745. Com a colonização inglesa abandonaram Podor, que perdeu parte de seu poder e agora só recebe alguns turistas de terra e os membros de Bou el Mogdad.

A última noite é passada aqui antes de retornar por terra a Saint Louis. A calmaria já se instalou tanto no corpo que fica difícil entrar no turbilhão urbano e não se sentir assaltado por um céu invadido por elementos artificiais. Carros ficam presos na rotatória da ponte Faidherbe e empresas espalham suas mercadorias nas calçadas, minando a paz alcançada.

Talvez antes do choque fosse outro, quando um louco decidiu fazer do rio Senegal uma viagem inesquecível.

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